Encontros Emocionais Com A Actualidade- 2007




Autor:
Ebb
Título:Loona

Tudo terá começado quando os Romanos dominavam a Gália. O sobrinho Goudurix do Chefe da pequena e indomável aldeia Gaulesa, trazia de Lutécia os ritmos fortes da noite, aos quais aderiram rapidamente o Bardo e Obélix. De caminho, os Normandos de visita à Gália, foram contagiados com estes sons estranhos. A princípio não gostaram, (até tiveram medo!), mas uma semente terá ficado. Eis-nos no Século XXI, e do Norte vem da melhor pop que se faz no mundo. E toda a gente se interroga porquê? Além da resposta no início deste parágrafo, mais uma razão encontra-se na boca de um dos senhores do ABBA, no documentário “História da Música Popular” que passou na RTP2.

Segundo Benny Andersson, quando os ABBA surgiram na Suécia, a música que se ouvia na rádio era apenas de teor político, nada de verdadeiramente popular. Como o mundo caminhou para a globalização, à qual é impossível resistir, com a rádio, primeiramente, depois os canais de televisão por satélite, e agora a Internet, nem a Suécia resistiu à invasão da música popular. Mas como não foi infectada pelo lixo não reciclável da música industrial, fez uma triagem do que melhor se fez ao longo do tempo. Por outro lado, os instrumentos musicais, acústicos ou electrónicos, esses sempre foram universais, então até chegarmos aos dias de hoje, houve um processo lento de assimilação e aprendizagem para agora desabrocharem as lindas flores pop.

Ebb, aparece sozinho numa capa bucólica com a viola, porque afinal, o processo criativo pode às vezes ser um acto solitário, mas este instrumento é apenas um sentido figurado da música que iremos encontrar. As referências são as melhores: Human League, Sudden Sway, Electribe 101, Beach Boys\Brian Wilson e os imerecidamente esquecidos Sufi-Live Is Rising de Rudi Tambala ( o "R" dos também inflizmente esquecidos A.R.Kane). “Loona”, pega onde “Life Is Rising” nos deixou: canções de amor, confissões íntimas ("I’m All Made Of Music"), numa coabitação entre a electrónica e a guitarra (mais discreta que em “Life Is Rising”), e com consciência de que o uso dos instrumentos electrónicos, por si só, sem força criativa e imaginação não conferem à música o poder do sonho. Björk, que anda há muito perdida no (seu) mundo, em vez de encenar a grandiosidade dos seus sonhos, se algum dia tivesse encontrado Ebb, teria feito de Vespertine um disco para nos lembrarmos. Mas, voltando ao sonho, “Loona” é como se um dia o génio de Brian Wilson tivesse tido um enconto com a riqueza da criatividade racional, mas humana, dos Kraftwerk.









Autor: Studio
Título:West Coast


Estamos perante um simples caso de paixão pop, onde se recorre ao método poço\fonte. Primeiro o poço, onde tudo é absorvido; "Haçienda", New Order, Happy Mondays, Durutti Column, 808 State, guitarras de funk-psicadélico da pandilha jamaico-brtânica Cymande, Duran Duran, últimos estágios do "disco" com sintetizadores e até a coragem de Fela Kuti para fazer uma composição pop com 16 minutos. A seguir a fonte, daquilo que foi assimilado, quase que nasce um nova liguagem pop, com aquela capacidade de propôr o prazer da paixão e aventura que qualquer disco deve proporcionar. Não será o melhor álbum do ano, mas é aquele onde se volta para uma viagem de felicidade, sempre que necessário.

PS São suecos.


Título:
Spooks (Dupla Identidade)
(Série de Televisão Britânica)




O facto de ter alguma idade, permite-me já ter alguma visão da história e de factos sobretudo relacionados com o nosso país, como era de esperar aliás. E tendo mantido uma certa paixão em relação à TV e Rádio, é curioso ver como antes se vivia com um canal, depois dois, a seguir o advento das parabólicas com a CNN e a MTV, o surgimento das televisões privadas em Portugal e finalmente o recurso do sinal por cabo. Igualmente, com o sinal digital a mandar no mundo, o mercado audio-visual tornou-se mais acessível. Mas, como em tudo, há o reverso da medalha. Mais do que nunca, a homogeneidade e a "ditadura" da moda Norte Americana, esmaga nas salas de cinema e na televisão quase toda a produção extra-americana.
Portugal, agora perfeitamente integrado no mundo, não resistiu, e os nossos programadores (cinema e tv) dão-nos quase só uma dieta americana, cujos valores estécticos e sociais parecem ser os universais. No entanto, sendo americano, se algo sai fora do padrão em vigor, não tem a mesma visibilidade, e só assim se explica que o último Lynch tenha passado em pouquíssimas salas. Claro, estamos no território do utópico, do mistério nem sempre decifrável, e neste caso, no arrojo de se fazer um filme fora dos 90 minutos padrão de diversão quanto baste para passarmos para o dobro.
Mas quando Portugal ainda era uma ditadura, ou dava os primeiros passos na consolidação da democracia, ainda se ouviam e viam ecos do mundo francófono e britânico. Os polícias ainda eram franceses, sem a ciência do CSI atrás, e os crimes complexos jogos mentais. O inspector Maigret, falava com os assassinos, interrogáva-os e pelos olhos e gestos, conseguia descobrir o caminho para a confissão. E de Inglaterra, além da paródia divertida com champagne, beleza femenina, cavalheirismo inglês, chapéu de chuva, fatos de bom corte e carros britânicos, Rover, Triumph e Jaguar, tínhamos como referência o rio Tamisa, com a "Thames Television" e o acorde de orgão que todos tentávamos descobrir com os nossos instrumetos rudimentares em casa. Os americanos, havia-os, com "Search" (Pesquisa), mais tarde "Culombo" o detective excêntrico de gabardine com fixação nos sapatos italianos e no seu "rare french car" (um velho Peugeot descaputável).
Agora, que temos? Os carros são jipes potentíssimos a roncar e gastar mais gasolina num quilómetro que o equivalente europeu ou japonês, os detectives, são todos inteligentíssimos, dizem que sabem latim para parecerem géneos, ou então são modelos de reclame de champô. As meninas, estão mais próximas da "passerelle" que da preocupação de resolverem um crime, além de existirem computadores e "software" miraculosos (embora não falem como HAL9000).
Contudo qual será o porquê desta nova onde de séries? Penso que há três razões para tal:

1-Com a força da publicidade, estamos todos centrados nos "blockbusters". Sabemos à partida que o espectáculo será pobre, mas há a necessidade de perceber a razão pela qual o lixo vende tanto,

2-O planeta vive à velocidade da luz. Já não há tempo, nem paciência, para ver um filme que durante 120min., no máximo, exigindo concentração, uso do intelecto e viver de emoções tão próximas de nós, apesar de estarmos perante uma ficção, enquanto numa série, o "comprimido" engole-se bem, não dura muito e estamos no conforto do nosso sofá,

3-O negócio da indústria cinematográfica, impede cada vez mais rasgos de criatividade, enquanto que produzir uma boa série poderá ser barato e fácil de explorar para as estações televisivas, devido aos intervalos para publicidade.

A série em destaque, afasta-se no entanto do padrão televisivo daquelas cuja moda e a as televisões da moda, obrigam a ver. Os episódios duram quase uma hora, contra os "standard" 45 minutos norte-americanos, os heróis, não os há, são antes anti-heróis, o bem e o mal são conceitos estranhos com que as pessoas se debatem, o mal nem sempre é muçulmano, pode até vir do lado cristão ou no seio das instituições, e as personagens perdem o fôlego e têm problemas comuns a todos nós. Além disso, há linhas de diálogo muito fortes,"África foi sempre um estorvo para nós e ainda temos de aturar as estrelas pop", e gestos de democracia: a televisão de notícias vista não é a da produtora, a BBC, mas antes a Sky News. As instituições são postas em causa, governo, serviços secretos e justiça. O inglês é complexo e obriga a ir ao dicionário. Além disso, é inglês e não americano, e isso deu-me mais trabalho para perceber. Por fim, sendo uma série de espionagem, os casos apresentados são concretos e com a infeliz possibilidade de serem reais. Claro, no meio disto tudo há um problema grave: "Spooks" não passa no canal da moda Fox, não faz parte do culto dedicado às séries por quem quer passar por intelectual e não tem as canções pop da moda, feitas por gente convencida mas cuja qualidade é tão má quanto qualquer canção do dito mundo "pimba". Não há musiquinha triste ou alegre para a cena exacta, há um "drone" permanente para manter a tensão, mesmo quando os espiões choram. E há ainda mais outro problema: é preciso ter coragem de em público dizer-se que vê a "BBC Prime", ou o canal "People+Arts", para não se ficar de fora do culto da moda.
Para acabar, gostaria de dizer que nem tudo é mau: "Spooks" não passou despercebida de todo, e uma conhecida cadeia de lojas francesa, importou as três primeiras épocas, embora seja muitíssimo mais barato comprar na amazon.uk.

PS1 A série contém 5 temporadas. Reproduzi a capa da 4ª, a minha favorita.

PS2 Peço desculpa por no texo acima, me ter esquecido de referir a fabulosa série norte-americana "A Balada de Hill Street" (Hill Street Blues), que está agora a ser reposta no canal por cabo RTP Memória. Considero imprescindível, e poder-se-ão aperceber como as séries da FOX e AXN são maioritáriamente paupérrimas. Agora, já não existe a realidade.

















Autor:Jimi Tenor
Título:Joystone

Afinal de onde vem o futuro? De África? De Saturno? A Terra, como polo aglutinador de civilizações do mundo faz a síntese yoruba-funk de Fela Kuti com a visão das partículas dos aneis de Saturno, portadoras de sonhos e som com sabor afro, materializados por Sun Ra. Jimi Tenor e mestres, cá na Terra, vão varrendo o céu em busca do contacto com possibilidades focalizadas na síntese atrás descrita. Planet Earth Transnitting!





Autor:
Vanessa And The O's
Título: La Ballade d'O

Vanessa And The O’s – La Ballade d’O


“ I recall a bigger brighter , A world of books and silente times in thoughts”, “… to die by your side, is such a heanvenly way to die”, “ Don’t walk aways in silence, Don’t walk away”, “ If you think the world is a machine with one cog, And that cog is you or the things that you, So you are not in this world, the world is not you”, “I’m sitcking with you, ‘Cause I ran out of glue”, “Turn off your mind relax, And float downstream”, “É p’rá amanhã, Se não for para depois”, “Efectivamente gosto de aparências”, “Memory wates, never wastes” como cantaram os Go Betweens.
Acabo de citar, de memória, e esta falha logo poderão ocorrer erros, pequenos versos, palavras, de canções que forma preenchendo a minha vida pop. Ora, e esta é uma das principais particularidades da pop, fazer-nos cantar, pois só assim nos poderemos apaixonar por uma canção. Foi sempre sim, desde os tempos da idade média, até à criação do cilindro de Edisson, ou da grafonola, passando pelo vinil, CD até à imaterialização da música convertida apenas ao símbolo digital. Mas, sempre, o propósito máximo, foi provocar uma empatia entra a melodia e as letras, para depois o ouvinte\consumidor, a memorizar e repetir nos várias actos da sua vida – os blues nasceram também das canções de trabalho nos campos de algodão. Contudo, para quem ama a pop, provavelmente se deram conta que as citações do parágrafo anterior estão limitadas a um domínio temporal do Século XX limitado – algumas dos anos 60 e o resto dos anos 80, quando no fundo iniciei a minha iniciação à “indy pop”. Tudo isto para chegar à questão, a pop, ainda se canta pela vida? Algum de nós consegue de imediato, citar um verso uma linha de uma canção gravada e difundida nos últimos 16 anos, excluindo alguns excelentes textos de hip-hop ou de “diseurs”? Nos tempos que correm, eu não me lembro, até porque o “funk”, revitalizado a níveis de grande interesse por gente como Quantic, ouve-se, absorve-se com o corpo e a alma, mas não se canta, nem sequer se pega numa viola arrumada ao canto para imaginar a voz de Alice Russell, algo que se fazia com Morrissey dos Smiths , Lou Reed ou a dupla Go Betweens.
Pois é, a pop, está perfeita, mas pobre. No campo comercial, é dirigida cientificamente ao mercado das rádios indolores, onde a mesma música em cada estação passa com um intervalo não mais de 5 min. Na área da pop dirigida a quem gosta de por vezes sentir o desconforto emocional, mas apercebe-se do sabor de viver e da simbiose emoção\razão, é tudo muito belo e perfeito, e afinal, o a alma é apenas acariciada e não se enterra na profundeza da alegria ou até tristeza de uma canção. Resultado, para quê cantar, se esse é um acto de libertação de emoções e de acompanhamento no acto de viver? Para quem foi formado na excelência de muitas canções dos anos 80, agarrou na viola para, mesmo que de forma muitas vezes imperfeitas, apercebia-se melhor da razão e emoção do acto de criação.
Vivemos num mundo pop perfeito, com uma facilidade de gravar um disco com uma qualidade de som mínima, e nem sequer já ninguém se dá ao trabalho de à volta de uma fogueira, fazer umas “campfire tapes”. E isto, serve-nos de alguma coisa? Não, para mim. Mas por obra do acaso, surgiu no horizonte um disco, com a capacidade de, momentaneamente, salvar-me (nos) do desespero. Vanessa and The O’s, álbum “La Ballade d’O”. São franceses, cantam em inglês e francês, numa mesma numa canção ou em exclusivo, e fazem tão somente uma coisa tão simples: canções pop! Que saudades! Depois há refrão para cantarolar, sem propósito, mas que tudo define: “Chante la chansson perpetuelle, Chante la chansson la bagatelle”. Está definido o caminho para aquele arrepio na espinha, a necessidade de voltar à guitarra, descansar do deliciosamente consumidor funk ou raggae, e … cantarmos. “Reste la lune s’en va avec paresse”, bonito, não acham? E vai tudo assim, “de olhos fechados”, com um mar de guitarras – “plus rien me presse”. Há quase 17 anos esperava um disco assim, onde até temos uma confissão de amor de fã: “ Sweet soft as dusty, Is the feeling I get for singing his words, As I am still waiting , I stare into clouds from the back stage kitchen, he will come, And walk through that door, second floor”, a canção chama-se “J’Attends Lou”. E assim, eu, e muitos outros amantes da pop, vamos voltar a substituir as cordas enferrujadas, magoar os dedos, mas com alegria. Vanessa and The O’s, poderia ter sido uma “jam session” onde, por sorte, Nico se cruzaria com os Luna, com laivos de arranjos de Mick Harvey, e a doce gentileza da arte produzida por François Truffaut.
Estamos perante um exemplo de música imperfeita, feita para pessoas imperfeitas, na procura do prazer da vida nos pormenores, com capacidade de contagiar os saudosistas conscientes das canções que amaram. Até o estranho Dr. House, esqueceria a sua amargura.