"Play list, Play list, Please them, Please them..."

Emissão do dia 23/01/05 – 96,5 Emissão

16ª Parte de Ciclo de Música Para Não Eruditos, destina-se a todos os que não lêem o Y, o DNA, o Blitz & afins.

1-Arthur Russell – World Of Echo – She’s The Star\I Take This Time

(Será destaque para a semana)

2-Indicativo

3-Colectânea da ZE Recordings Mutant Disco – Was Not (Was) – Wheel Me Out
(O Disco Sound um pouco fora da matriz Salsoul, menos estilizado que o Not Disco, mas nem por isso a música é menos vibrante. Reedição agora com dois CD’s, pois a primeira, de 1980, só trazia um.)

4- Mutant Disco – Was Not (Was) – Tell Me I’m Dreaming

5-Alex Gopher – You My Baby And I – With U
(A conecção francesa do “disco”, que foi feita especialmente por Jean-Marc Cerrone, mas aqui com a adição do p-funk.)

6-Mutant Disco – Lizzy Mercier Descloux – Funky Stuff

7-Mutant Disco – The Weitresses – I Know Wht Boys Like

8-Roy Ayers Ubiquity – Mystic Voyage – Funky Motion
(O mítico tocador de vibrafone Roy Ayers, aqui no projecto Ubiquity, com um deslumbrante “funk”. Muitos músicos de jazz, vindos dos quadrantes mais clássicos, aproximaram-se do compasso binário sincopado. Miles Davis, e o seu ex-pianista Herbie Hancock, também, especialmente em “Head Hunters”. Lembro que o “disco”, começou por ser uma versão “luxuriante” do “funk” feito em Filadélfia.)

9-Mutant Disco – Kid Kreole And The Coconuts – Annie I’m Not Your Daddy
(August Parnell, figura de proa da ZE, aqui num sabor latino-disco. Execelente para dançar.)

10-Mutant Disco – Coati Mundi – Que Pasa\Me No Pop

11-Mutant Disco – Don Armando’s 2nd Avenue Rhumba Band – Deputy Of Love

12-Alex Gopher – You My Baby And I – Party People
(O “disco” é uma festa!)


Emissão do dia 16/01/05

-15ª Parte do “Ciclo de Música Para Não Eruditos” – Destinado a todos quantos não lêem o Blitz, o Dna, o Y & afins.
Continuámos com “Disco Not Disco”, começando-se a notar o aparecimento dos primeiros sintetizadores.


1-Young Gods-Young Gods – Did you Miss Me
(Passo sempre este tema, cada vez que estou ausente algum tempo de fazer programa.)

2-Indicativo

3-Arthur Russell-World Of Echo – Place I Know\Kid Like You

4-Arthur Russell – Calling Out Of Context – The Platform On The Ocean

5-Sonic Youth – Goo – Tunic (Song For Karen)
(A sequência dos Sonic com o Arthur, teve a ver com a semelhança na distorção entre o violoncelo em “Plateform...” e as guitarras em “Tunic”.)

6-Arthur Russell – Calling Out Of Context – You And Me Both

7-Disco Not Disco One – Yoko Ono – Thin On Ice

8- Disco Not Disco Two – Laid Back – White Horse

9-New York Noise – Bush Tetras – Can’t Be Funky
(Também a No Wave dançava. Nesta colectânea estão presentes Liquid Liquid e Arthur Russell, tal como em Disco Not Disco.)

10-A Certain Ratio – To Each – My Spirit
(Sem descontinuidades em relação ao som que vinha a passar, os Ingleses a ACR, mostrando sintonia de ideias entre Manchester e NY.)

11-Disco Not Disco Two – Connie Case – Get Down

12-Konk – The Sound Of Konk – Your Life

Pequena História da Pop

Pop e Derivados
Faltas Reconhecidas: Anos 70, David Bowie e "Cena de Berlim".
Anos 90, A Questão da Europa Central, França, faltam referências a Mighty Bop,
Rinôcerose e Seven Dub.
ACTUALIZAÇÕES:
-MUITO IMPORTANTE: Correcções nos "Anos 70" e "80", graças à Bondade de Mestre Braga da RUC.
-Anos 90, iniciei o capítulo de Música Global - Transglobal Underground, Natacha Atlas, Shri, Loop Guru, Jah Wobble e Hactor Zazou, por exemplo. Completo!
-Anos 90, Neo-Psicadelismo. Completo!
-Anos 90, iniciei o capítulo P-Funk (outra vez!). Mencionei Material, Deee-Lite. e Alex Gopher. Concluido!
-Anos 90. Fez-se a paz em Manchester. Electronic.
-Anos 90. A Pop que eu deixei. The Sundays . Quase epitáfio.
Primórdios da Pop

A pop nasceu devido à perseguição da Rússia Czarista aos Judeus, nos finais do século XIX. Este povo imigrou para Nova Iorque, juntando-se a outros como os Italianos ou Irlandeses. Muitos judeus procuraram cultivar-se, comprando pianos onde os seus filhos começaram a brincar e até a compor. Um dos mais famosos imigrantes foi George Gershwin.
Por outro lado, a libertação e migração dos negros na América fez com que outra forma de música popular nascesse: o “ragtime”, que significa “tempo irregular” e é o antecessor do jazz, traduzindo este novo estilo igualmente a vida frenétca das grandes cidades. Contudo, a massificação da música só foi possível graças à industrialização da América. Numa primeira fase vendiam-se partituras e depois chegou a grafonola.
A pop estava a surgir, e NY foi o seu motor principal com a “Tin Pan Alley”, onde num prédio se compunham canções literalmente “ao metro”. Mas os teatros de “vaudeville” foram dos primeiros veículos de transmissão popular através dos espectáculos “minstrel” (onde brancos de origem judaica escondiam as suas origens pintando a cara com graxa negra), ainda antes das grandes produções da Broadway, onde quase chegou a haver um primeiro acto de libertação de etnia negra através do musical “Riverboat”, da rádio e, igualmente, do cinema sonoro.
E depois, veio o jazz. Nascido da introdução da improvisação no "ragtime" em New Orleans, esta música sincopada, apelava à dança. O nome mais conhecido desta época, e não só, é Louis Amstrong, que aprendeu a tocar trompete sobretudo na banda de Big Joe Oliver, e deu uma força tala ao instrumento, que parecia ser esta agora a sua voz. Louis, no entanto cantava bem, com o mesmo encanto do seu trompete, e tornou-se uma estrela popular, em todo o mundo. A outra face, o lado triste do jazz, era vivido por Billie Holliday. Tendo tido uma vida dura, interpretava as canções tristes com um sentimento fora do comum.
Mas o jazz, era uma música de extremos, feita por uma comunidade que ainda não era reconhecida como seres humanos de iguais direitos ao brancos, e por isso, para este público, havia que a reduzir ao menor múltiplo comum. Conservou-se o ritmo, agora com arranjos mais suaves e expansivos. O jazz tornou-se... "pop", com a sua grande estrela o chefe de orquestra branco Paul Whiteman.
Outras figuras, viriam a usufruir duma das duas formas mais importantes musicais do Século XX, para mim, a outra é o "blues". Bing Crosby, futura figura importante do cinema, cnatva de forma clara e linear, não "pirosa" como os cantores dessa altura, e foi o primeiro a perceber e a importância do microfone. - e isto seria primordial com o advento da TSF.

Rock’n’Roll e Pop

O Rock’n’Roll nasce do rythm’n’blues negro. O ritmo é um bocadinho mais acelerado e é a consequência da necessidade de uma juventude, não só negra, encontrar uma música que com ela se identificasse no pós-geurra dos anos 50. Little Richard (negro), Bill Halley (branco) e, claro, Elvis Presley (o branco que tinha alma negra) são os grandes ícons dessa época. Até aqui, depois das canções da Broadway e dos clássicos dos filmes musicais, do jazz que deixaria de ser popular com o surgimento do be-bop deixando para trás a canção sentida, o “swing”e o divertimento puro dos tempos de Nova Orleãs, a canção popular era “ligeira” - que tal uma historieta sobre um adorável cãozinho, ouvindo-se o seu terno ladrar?
O rock viria a provocar a pop. E nesta época ainda não havia “sing song writers”, mas antes produtores que compunham para os seus cantores. Do lado “branco”, tivemos Phil Spector com as suas “pequenas sinfonias” ou o conceito “wall of sound”, tal era a massa sonora utilizada para sair de um só alti-falante – ainda estávamos no tempo “mono”. Grandes nomes viriam a gravar com o mago Spector, como a hoje conhecidíssima Tina Turner. E, mais tarde, este mítico produtor, salvaria da desgraça “Let it Be” dos Beatles, e também o seu aspecto sonoro, viria a ser utilizado pelos Velvet Underground - John Cale quis fazer em “Venus In Furs” um único e longo acorde como Spector (torna-se necessário ouvir o “Banana Album” em mono) - e nos anos 80 os Jesus and Mary Chain recuperaram o conceito Wall Of Sound no seu primeiro álbum.
Do lado “negro”, Barry Gordy Jr., o Sr. Motown, era muito exigente com todas as canções produzidas na sua “linha de montagem” - conta-se que ouvia tudo o que era gravado, através de uma alti-falante pequenino, para simular os rádios de então, e assim se certificar da qualidade da gravação. Na Motown - Detroit -, tínhamos compositores como os irmãos Dozier e Norman Whitfield, que faria parte dos Temptations. Também esta foi uma fábrica de celebridades da história da pop. As Supremes com Diana Ross, Stevie Wonder ou mesmo Michael Jackson, ainda integrado no grupo familiar “The Jackson 5”, teriam sob o signo do rigor composicional uma escola musical para a vida.
A pop surgia então finalmente como a conhecemos hoje. A canção tem o seu padrão: duração não mais de 3min. e a arquitectura era de estrofe-refrão-estrofe-ponte-refrão. Mas os Srs. Produtores teriam o seu domínio limitado em breve, pois de Liverpool viria a revolução, apesar de terem sido os que foram primeriramente ao encontros das necessidades da juventude pós-guerra, e também terem tido uma intervenção nas técnicas de gravação - Tom Kirshner usou a casa de banho como câmara de eco, antes de Sam Phillips, o homem que descobriu elvis Presley, o ter feito por processo um eléctrico, usando fita magnética.


The Beatles

Sempre que se pensa em pop é obrigatório citar Beatles. Eles vieram revolucionar o mundo, pois compunham o seu próprio material. Claro que o quarteto de Liverpool é sobretudo conhecido por canções como “Love Me Do”, “Can’t Buy Me Love” ou “Yesterday”, mas o seu maior contributo terá sido não se ficarem pela arquitectura da canção atrás mencionada e terem avançado para o futuro, recorrendo ao estúdio. Para quem conhece a sua discografia, e devido aos media, o álbum “Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band” é menciomado como o seu melhor, mas eu recomendo antes Revolver, onde aí se usa o estúdio como força viva, quando em “Tomorrow Never Nows” se ouvem as bobines a rodarem para trás, constituindo esse som o tradicional “solo”. Ainda neste álbum, há a canção “She Said” onde se ouve “She said, I know what it’s like to be dead”, entrávamos na “acid trip” do psicadelismo. Indiscutivelmente um dos maiores grupos e mais inovadores de sempre.


The Rolling Stones

Outro grupo conhecidíssimo e ainda em actividade. Nunca foram os rivais dos Beatles, antes amigos, até porque vinham da “escola” de Alexis Corner, senhor que tinha um bar em Londres onde se tocavam “blues”. Contudo em ambos os grupos se sentiram as infuêndcias negras. Em Liverpool, ouvia-se “soul”, pois os barcos vindos dos EUA traziam esses discos; em Londres também através de importações, procurava-se Muddy Waters. Os Rolling Stones perduraram e deixaram-se envolver ligeiramente pelo “glam rock” dos anos 70 e até pelo “disco-sound”.


The Beach Boys

O estado da Califórnia, contagiou o mundo pelos “surfistas” e a “surf music”, antes do “poder das flores”. A praia era símbolo de liberdade e divertimento, logo, numa primeira aproximação, as canções teriam de transparecer a ambiência vivida. Mas o sol também pode iluminar a alma, e nesse caso a criatividade reforça-se. A família Wilson, era engraçada e refrescante como as marés, mas Brian levava a composição a sério e não deixou de sentir “Good Vibrations” para fazer uma das mais belas canções de sempre. Além disso, foi visionário, pois integrou um instrumento electrónico o “theremin” (umas antenas geram um campo magnético, onde a presença das mãos introduz alterações e este dispositivo ligado a um amplificador, gera ruído). Os Beach Boys foram sim o grandes rivais dos Beatles e Brian Wilson, só agora em 2004, acaba a sua obra-prima, o álbum Smile, porque entrou em depressão quando ouviu o “Sargeant Peper...”, julgando nunca atingir tal perfeição.


Bob Dylan

Um rapaz que pegou na tradição acústica dos colonos (brancos e negros) dos EUA e começou a intervir na sociedade. O seu álbum “Highway 61 Revisited” é uma clara alusão aos perigos da vida, pois reza a lenda que na autoestrada 61 existe um cruzamento onde os “blues men” vendiam a alma ao diabo com o intuito de melhor tocarem guitarra. Bob não o fez, mas quando deixou a seu gládio de justiça e procurou a electricidade para continuar a luta, os seus fãs acharam ter acontecido uma traição, mas foi fundamental para outras aventuras, sobretudo na costa Oeste.


Byrds

Pegando numa canção de Bob Dylan, “Mr Tambourine Man”, os fãs dos Beatles - escolheram este nome para o seu grupo para ter um “b”- recorreram à electricidade para o folk ganhar contornos de rock. Por serem da zona das flores, aderiram também ao psicadelismo com o álbum “Younger Than Yesterday” (cerca de 1967). O concerto destas guitarras é belíssimo e deixou raízes excelentes, bem aproveitadas quase vinte anos mais tarde pelo primeiro álbum dos ingleses Ride – Nowhere.
O folk-rock também aconteceu nas ilhas Britânicas, onde os Faiport Convention exportaram sensações de ruralidade em coabitação com o mundo moderno.


Funk

James Brown

O “padrinho do funk”, sim, mas porquê? Por que acentuou a síncope à matriz “soul”, gerando uma música “funky” (estranha). Depois da baladas, vieram os tempos fortes seguidos de fracos, a cada gesto, a banda reagia com espasmos rítmicos e de metais, o verdadeiro profissional, mas autocrático, implicando o afastamento de grandes músicos. Foi também o homem mais “samplado” do mundo, antes do hip-hop ter acordado para outro legado da música negra, o jazz. Para terminar “padrinho”?, sim, mas não “o criador”.

The Meters

O “funk” nasceu, tal como o jazz, em Nova Orleãs e as histórias são paralelas. Dos “rythm’n’blues” e da marcha gerou-se um tempo ainda mais irregular, chamar-se-ia síncope, e assim nasce o funk. Discípulos de Charles Longhair, o homem que tocava piano só com seis dedos, nunca terão atingindo uma escala de reconhecimento nacional, mas tiveram uma secção rítmica infalível. São indispensáveis!

George Clinton

O senhor era barbeiro e tinha um grupo de “doo-wop” chamado Parliement. Com o decorrer dos tempos, na Motown, foi tornando as suas canções “irregulares” também, mas, como o rock se tornava um ramo à parte na árvore geneológica da pop, e as “acid trip” começavam a despontar. Clinton criou um braço paralelo na sua criação, chamando-lhes Funkadelic. Como Funkadelic\Parliement, viveu o seu P-Funk, onde a grande diferença para a restante música negra estava nos amplificadores. Usava os Marshall, do rock. Viria também a ter um papel preponderante na segunda metade dos anos 70, com a industrialização dos sintetizazores.

Fela Kuti

Aqui, sim, temos “rei” e “criador”. Fela Ransome Kuti, Nigeriano de nascença, foi um visionário protestante. Protestou contra a ditadura dos generais, e, em vez de uma guitarra em punho, fez da canção, não uma arma, mas uma explosão contínua de força de vida. Fundiu vários estilos: o jazz, o “high-life” (música tocada por nigerianos influenciada pelo jazz, numa alusão à “high-life” dos brancos colonizadores), a música latino-americana trazida pelos marinheiros do outro mundo, o funk cortante já conhecido e as tradições da sua tribo “yoruba” - sobretudo o "talking drum". Gravou sem cessar, foi brilhante enquanto teve a seu lado o mago baterista Tony Allen (ou Allenko, como lhe chamava), era mau executante mas detinha uma intensa musicalidade. Ouvir um disco de Fela é como procurar forças para alma, quando estas escasseiam. O Afro-Funk, não é só ele, mas é-o essencialmente.

A Pop Intelectualiza-se, e vive “debaixo do chão”

A vida nos anos 60 foi-se tornando mais fácil mas interessante e os bens de consumo deixaram de ser simplesmente práticos e começaram a ter “design”. Uma caixa de detergente, uma lata de sopa ou simplesmente o símbolo da coca-cola, começaram a ter sentido estético. E se a isto adicionarnos música, temos uma fonte de onde brota uma água de sabor diferente, capaz de ser doce e bela como ácida e fascinante. Para não ferir muito, contudo, procurou-se sempre um meio aveludado de transmissão, pois nem sempre se encontram com facilidade estas veias: Velvet Underground. Andy Warhol, sonhou, desenhou, Lou Reed, John Cale, Maureen Tucker, Sterling Morrison, e a deusa Nico, encarnaram o projecto.

O Metal Em Fusão

O sonho pode ser doce ou assustador, ou deter as duas componentes. Como vivê-lo neste último caso? Só de uma forma, exorcisando-o, realizando-o. A fórmula é simples: pega-se numa guitarra eléctrica e incendeia-se a alma. Esta por sua vez activa os neurónios e o sonho vive-se acordado. Fica-se relativamente perdido, por isso olha-se para o céu em busca de pontos de referência e de lá vêem-se “drops of Heavy Metal falling”. Nem sequer é necessário ir uma fundição industrial. Basta ter e mente disponível para viajar. Jimi Hendrix encontrou em Inglaterra refúgio para as suas viagens, já que, apesar de tudo, no outro lado do atlântico, nem sempre a alucinação experimental era possível.


Anos 70

Os fabulosos anos 70! É verdade, quase mais importantes que os da década anterior. A Guerra do Vietename, inicialmente, estava no auge, os protestos sucediam-se, e contra o ódio e a violência usavam-se flores e apelava-se ao amor – “All you need is love”. A música quase se fundia. Nalguns casos, deixaria de haver distinta separação entre o lado “branco” e “negro”. A dita “race music”, etiqueta dos anos 20 até aos 50 para música gravada pelos negros, ressucitaria doa nos 60 um grupo chamado Love, mas, contudo, a consciência de um povo discriminado não era esquecida. Houve quem apelasse à paz entre raças, ou fosse mais radical. Os confrontos com as autoridades eram inevitáveis – “There’s a Riot Going On”, cantava Sly Stone. O legado dos “blues” era agora agora declamado com base no funk pelos Last Poets e Gil Scott Heron.Nos EUA, então viviam-se dois confrontos: de um lado os negros a lutarem pelos seus direitos civis, do outro uma população de jovens procurando evitar a chacina da guerra. As flores ou a poesia agreste não eram suficientes, era necessário procurar formas de expressão não lineares. No teatro, os actores confrontavam o público com o temor deste, e, para esquecer a vida, bebia-se LSD - Jerry Garccia dos Greatful Dead, deve ter bebido litros, devido à energia trazida da década de 60. A libertação da alma procurava-se, o rock leva-se a sério e tornava-se “progressivo”, tentanto ser uma forma “clássica” de cultura. Um dos expoentes máximos deste acontecimento, foram os conhecidíssimos Pink Floyd. Mas, entretanto, os “mod” ingleses The Who, viviam a vida por si mesma e compunham óperas – “Tommy”, ainda de 1969, e Quadrephenia” -, o sarcasmo implementado por Frank Zappa com os Mothers Of Invention em “We’re Only In It For The Money” de 68, enconmtrava proclamação. Os blues eram igualmente reencarnados através da inércia do movinmento psicadélico de Captain Beefhart em “Mask Trout Replica” – igualmente do “ano do amor”. Outros sonharam em dar ao rock um aspecto lascivo de “glamour” (“glam rock”), onde a qualidade do produto era delicada, T Rex, ou feita com pouca ortodoxa sofisticação, Roxy Music, e destes últimos viriamos a conhecer um dos maiores escultores musicais do Século XX: Brain EnoEntretanto, o homem visitava pela última vez a lua, a “Guerra Fria” estava instalada, embora se procurasse por vezes o desanuviamento como o encontro de uma cápsula Apollo com uma Soyuz a meio da década. O Vietename acabaria em tristeza, tal como as nossa guerra colonial. Outros problemas sociais estavam a a brotar.O rock, esse, torna-se mais simples e duro. Três acordes, para a tradicional arquitectura da canção bastavam. Os Ramones seriam os iniciadores de um furacão ligado ao proletariado em Inglaterra, ou, como uma forma de expressão aparentemente simples, mas com raíz nas universidades de NY. No Reino Unido, esses vadios (“punks”) de cabelos em pé, apelando à desordem, “Anarchy in the UK”, e à dureza da atitude, começaram por ser “Sex Pistols”; levaram a pop para um dos mais curiosos momentos de liberdade sem limites. Alguns recuperavam os misticismos, Siouxie And The Banshees, para continuarem em jeito de utopia a abrir feridas, “metal is good, metal is clean in my master’s scheme”, outros, excepcionalmente, viriam do meio universitário, sendo o seu “punk” de arestas menos cortantes – The Wire. Acendia-se um archote, cuja intensidade seria modelada, mas a luz estaria sempre presente nos anos 80.Ainda no Reino Unido, niguém ficaria indiferente à música trazida pelos imigrantes jamaicanos, desde os anos 60. O “raggae”. Com o seu representante mais conhecido Bob Marley e com um infinita teia de fantásticos talentos musicais e produtivos com vontade de avançarem no tempo, usando os estúdio como laboratório, provocaram a precipitação do mais importante derivado do “raggae”, o “dub” - numa primeira aproximação, estávamos perante um acentuar rítmico da parte instrumental da canção nos lados “b” dos “singles, partindo-se depois para exprimentação sonora, e os grandes cientistas foram King Tubby e Lee Perry. Daqui partiria também o encontro com o movimento de chama ardente, e era natrural; afinal ambos sentiam-se presos a convenções, ou a uma ressaca da pós-independência do seu país e desilusão por causa da crise económica. Os estilhaços vindos da Caraíbas, faziam-se sentir naqueles para quem o mote de vida era, sem dúvida, a anarquia. A fusão tinha de acontecer; os “Clash”e os PIL fizeram-na.E nos EUA, o que se foi passando? Lá a vida, na segunda metade da década, não era agora tão dura. O pesadelo da perda de vida sem sentido ia-se desvanecendo e uma nova geração universitária conferia outra vez a NY o seu papel cosmopolita e de farol criativo para o mundo. Se bem que também os Ramones fossem uma coordenada a considerar, os Velvet Underground, não eram esquecidos, e devido à tradição cultural contemporânea da cidade – Mondrian aqui viveu -, a pop era poética, sofisticada ou até sofisticadamente arrasadora. A voz trémula de Tom Verlaine e umas guitarras de sonho (os Television) seriam os novos românticos do caos. Um rapaz vindo de uma escola de arte (David Byrne) com os seus amigos achavam que um ligeiro funk no seio de uma canção construída à volta de uma estrutura clássica poderia pôr a cabeça a pensar bem e falar ainda melhor (Talking Heads). Uma rapariguinha loura (Blondie) e os amigos, eram acidamente adocicados. Esta era a nova onda (New Wave), e o seu epicentro estava na sala de espectáculos CBGB. No entanto, havia gente do contra e por isso foram a “No Wave”. Estes dois arrasavam um prédio musical conhecido, e, nos escombros, procuravam a beleza, cantando (DNA e Mars). Um outro procurava criar ruído harmónico e sinfónico (Glenn Branca) e alguns gritavam ao vento e batiam com força no metal da locomotiva alimentada a guitarra baixo (Liquid Liquid e Konk).As coisas corriam bem, a cidade de Nova Iorque fervilhava de actividade visível, pois, mais uma vez, havia uma mundo paralelo e não à luz do dia. Os “gays”, não se viam do dia-a-dia, juntavam-se e exultavam a sua escolha e alegria nos clubes da noite, onde as festas eram animadas por discos. Encontrou-se então uma via nova para uma música, não executada ao vivo e com fome de exploração. Partindo da base luxuriosa do soul de Filadélfia, alguns desses intérpretes residiam agora aqui; o ritmo tocado nos gira-discos tinha as montanhas e vales da síncope menos acentuados, e até um génio no futuro beatificado integrou o seu violoncelo nesse estranho mundo “popular” para experimentar como tal soaria num contexto de ritmo já linear mas fortemente marcado. O hoje santo Arthur Russell coabitou com a artista plástica e mulher de John Lennon Yoko Ono, e um músico novinho apaixonado pelo baixo, Bill Laswell, foi acompanhando a “Materialização” (numa fase de transição de década) deste sonho de dictonomia bela\estranha. O “disco” continuava a ser o veículo de transporte das experiências, contudo, alguns apesar de terem o mesmo suporte de divulgação, queriam ter “not disco”.E na soul, o que se passava? A guitarra acedia ao lugar dos metais, juntava-se um efeito “wah-wah”, e procurava-se o devaneio. Por outro lado, houve quem quisesse adicionar a modernidade à velha síncope de nascença do jazz, criou o “funk-jazz”, música também de afirmação étnica transportada para a tela cinematográfica. Isaac Hayes fez a BSO do mítico filme ”Shaft”, e Curtis Mayfield doi o outor da BSO de “Superfly”. Contudo, a electrónica começava a fazer a sua entrada. Stevie Wonder já não era “Little” e começava a ser um artista de corpo inteiro, sendo-lhe concedido espaço para avançar no relativo desconhecido na Motown, ainda da cidade motora também da soul, Marvin Gay preocuva-se com o estado da condição negra e fazia um álbum de estética ficcional aparentemente formal mas interventivo – “What’s Going On” -, e Herbie Hancock, o pianista prodígio que aos sete anos tocava com a orquestra de Chicago, tinha acompanhado Miles Davis, devido também à sua formação profissional de engenheiro electrotécnico inseriria os primeiros sintetizadores num imaginário futurista africano, fez um álbum funk, fabuloso – Head Hunters -, sendo citado 30 anos mais tarde pela corrente de hip-hop, para quem o jazz era o legado a absorver. Pelo meio, em Filadélfia, dois produtores quase ao jeito de Phil Spector, Gumble & Huff (este último até tinha trabalhado com Spector), resolveram expandir o funk, entrepondo batidas nos intervalos da síncope, criando um edifício sonoro com alicerces reconhecíveis no R&B com aspecto sonoro mais suave mas nem por isso com menos “alma”, e assim, o apelo à dança era tentador. Dos desenhos do som descrito, em Nova Iorque, aumentou-se o calor com pinceladas de cores latino-americanas recorrendo-se à salsa, não se esqueceu a alma e os irmãos Cayre, originaram a Salsoul com o “disco” perfeito para animar as noites dos novos clubes de NY. Claro, esta foi também uma base de inovação para os “not disco”.No caminho para o futuro faltam ainda erguer dois pilares. O cosmos até então visto regularmente como zona de meditação (Sun Ra), passou a ser interpretado em regime lúdico, com alusões à BD, brincando com a mensagem, mas abrindo um espaço de intervenção eletrónica premonitório. Dr. Funkenstein, vulgo George Clinton, trouxe o espectáculo para o povo, dando-lhes um visionarismo encoberto de brincadeira. Na europa, a tradição da música electroacústica, transpunha as barras do erudito e iria desaguar no caminho de uma forma musical dita popular, apenas porque não tinha estatuto composicional para ser considerada... erudita. Na Alemanha, o rock dos Can, Neu e Faust, as sequências sonoras de lógica melódica dos Kraftwerk, e em França e Itália a linearidade rítmica do “disco” de motivos dançáveis foram elementos de um conjunto nascido da indústria electrónica ao serviço da arte.Para finalizar, foi nesta década que o já mencionado Fela Kuti produziu os seus melhores discos. Especial atenção às capas – denunciam imediatemente, e de forma satírica, a contundência das palavras.

Anos 80

Os anos 80, foram marcados por um lado pela continuação da tradição da canção pop, aliada a uma inerente precoce “globalização” que começava a despontar no mundo.


Pop e Indy

A canção seria recortada de uma manta social de contornos agrestes, estes ficavam de fora e aproveita-se o coração estritamente musical. O Reino Unido, passaria a ter um mosaico de grupos, cantando, reinventando a canção, sob o signo de apenas fazer bem à arte, pois eram editados por gente utópica de espírito Indy (de “independent”). Os jovens génios teriam os nomes de Ian Curtis e Bernard Summer (Joy Division), Ian McCulloch (Echo and The Bunnymen), Roddy Frame (Aztec Camera), Mike Scott (The Waterboys), Robert Smith (The Cure), Morrissey e Marr (os famosíssimos The Smiths, e talvez a mais fantástica dupla de escrever canções após Lennon\McCartney e Reed\Cale e ainda os imigrantes australianos The Go Betweens (que aconselho vivamente como acto complementar aos Smiths), Triffids e Nick Cave (através dos Birthday Party e Bad Seeds). E, para variar, o norte voltou e ecludir.
Da Irlanda o “whisky” implicava a tristeza cantada com voz rouca vinda do esforço do operário que afoga as mágoas ao fim do dia (Pogues), enquanto também a norte no País vizinho e “colonizador” UK, um senhor ia aglutinando pessoas para iluminar a escuridão fantasmagórica das ruas de uma cidade abandonada, cujos portos eram quase ruínas de um passado recente.
Tony Wilson, de Manchester, resolveu inspirar-se na tradição industrial da sua cidade e edificou uma “Factory”. Não havia propriamente uma produção em série, antes exemplares, quase protótipos, experimentais, com taxas de rendimento curiosas. Os já citados Joy Division encarnavam o espírito da negritude bela do ambiente, os Certain Ratio espiçavam o coração da dor com funk e um rapaz franzino, Vini Reilly, de viola em punho, tentava simular aguarelas usando tintas a óleo. Para animar as hostes, procurou-se construir um “campo de férias” virtual, algures no mediterrâneo chamando-lhe “Hacienda”, onde os os maus olhados e as decepções eram exorcizados, recorrendo à disciplina da aeróbica forçada por ritmos longe de serem descartáveis. No final da década, o programa de animação deste “resort” passou a ser padrão para outras paragens, e teria nome de “the scene that celebrates itself”- grande responsável pela bipolarização do pop, no final da década.
Entretanto em Londres, um “hippie” fora de época, Geoff Travis, através da já criada uma cooperativa de música – a Rough Trade – a meio dos ano 70, cometia a ousadia suprema de roubar à cidade referência da pop de então, Manchester, uns rapazes (Morrisey e Marr) que da amizade fizeram um duo de escrita deliciosamente melancólica, com o nome de família The Smiths. Mas, antes, já Geoff tinha trazido ao mundo a depuração máxima dos corpos, procurando estes serem robustos, mantendo o coração com ritmo cardíaco seguro no limiar da magreza, alimentado-se para isso, sobretudo da pureza da alma, e esta, vivendo nas condições expostas, confere a eterna juventude – Young Marble Giants, álbum Colossal Youth.
Ainda em Londres, fora do contexto cooperativo, um esteta chamado Ivo Russell Watts, criou uma editora de aparente uniformidade sonora - a 4AD-, que fez do ecletismo artístico a sua coerência. Os “Cocteau Twins” estavam entre uma Atlânlida misteriosa e a poesia da voz, devido sobretudo à angelical Elizabeth Frazer. Nos Dead Can Dance, actualizava-se o mundo das masmorras da idade média e do poder inquisitivo para um estado de meditação. Nas Throwing Muses não haviam musas para adorar, mas um folk-rock ácido, e como o tecno dava os primeiros passos, foi-se até Marrs e ordenou-se “Pump Of The Volume”– “A Colorbox A.R.Kane Colaboration”. No lado b dets maxi, os A.R.Kane ensaiavam a fusão nuclear em música, sendo a experiência prolongada no sublime álbum “69”. Antes do funal da década, os A.R.Kane editariam “I”, um electro-pop delicioso, de suave ambientalismo. Curiosamente, estes dois discos, embora do pont-de-vista sonoraq se aproximassem da estéctica da 4AD, foram ambos editados pela Rough Trade.
A “indy” das pequenas editoras ressuscitava a excelência da canção, modulando o archote do “punk”, e para os jovens desta corrente não se esquecerem como se poderia estar no limite da erudição contemporânea, não se perdendo os sinais invetáveis da pop, John Cale preconizava “Music For A New Society”, onde o mundo gélido do seu piano e das palavras era fundido nas arestas pelos arranjos de cordas. Nunca a frieza de raciocínio esteve tão bem aliada à pureza onírica da criação.
No outro lado do atlântico, a canção era também mote de vanguarda. R.E.M. construiam coisas sólidas no meio do sonho. Os Talking Heads, agora mais maduros, assumiam a sua condição “funky” gravando um álbum em regime de “p-funk”, das influências da No Wave (Mars e Glenn Branca), o ruído voltava a ser esculpido gerando ora amores psicalédicos ora canções de embalar no seio do calor de um furacão. Com esta postura, o grupo só se poderia chamar Sonic Youth. Ainda dos que tinham remado contra a maré resultava uma aproximação mais intelectual de uma entidade artística de cariz “popular”. Os meios multimédia começavam a estar disponíveis para quem deles necessitasse de transmitir uma mensagem, e Laurie Anderson usou-os como complemento às curtas metragens que ia recitando. Outros, porém resolveram fazer um desenho minimal para traduzirem a sua música. Pegaram numa folha de papel em branco e deixaram-na praticamente vazia para ser prenchida por voz e respiração e, no centro, desenharam uma longa linha com lápis grosso, representando a guitarrar baixo, e depois registaram à volta da linha grossa pequenas irregularidades com lápis fino, representando um violino. Nos posteriores desenhos, conferiram-lhe um carácter policromático e quase tridimensional. O baixo e o violino eram agoras bandas de azul escuro e violeta, atravessando o céu. Os autores do descrito foram os Hugo Largo. Houve quem, em vez de desenhar, resolvesse esculpir na pedra, deixando a superfície final num belo estado rugoso, foi Tom Waits. Ainda no continente americano, no Canadá, ao romper da década, houve quem se lembrasse das experiências atrás descritas para relembrar os “blues”, e, de seguida, em papel celofane azul escuro, juntaram poucos tons de azul e verde, mantendo assim um estado de depuração. Eram os Cowboys Junkies. Entretanto, achou-se que a poesia não teria necessáriamente de ser sempre a sustentação lírica do pop, e por isso os Ten Thousand Maniacs resolveram contar histórias, recorrendo à prosa.
A etiqueta “indy” era não só um negócio de editoras independentes (Inglesas) apaixonadas pela música, mas uma atitude de alguém procurando crescer dentro da história da canção. Era difícil para outros músicos no mundo ocidental ficarem imunes. Em França, existia Étienne Daho, na Bélgica a Crammed editava o pop de guitarras semi-ambiental dos Isrealitas Minimal Compact e os Noruegueses Bel Canto (com a bela voz de Anneli Drecker), o Francês Hector Zazou ( a solo com o amigo Bonny Bikaye) sonhando também com o futuro de África, e a Paly It Again Sam industrilizava o som com os Cassandra Complex a caminho do forte electrónicamente gerado "new beat" vdos Front 242.
E no meio disto tudo, decobriu-se um tesouro. Umas “lost tapes” dos Velvet Unederground, que corresponderiam a uma álbum a ser realizado por imp+osição de contrato com a Verve. E a expectativas não sairiam goradas. “VU”, assim se deu o nome ao disco, permitiu aferir a condição de vanguarda dos Velvet. Gravações com vinte anos, tinham uma actualidade espantosa, mesmo quando comparadas com a melhor composição da década. Há uma racionalidade presente e não provocadora de clivagens com a delicadeza da paixão. IMPERDÍVEL!
Em Portugal, os Xutos e Pontapés limavam arestas do seu “punk”, os Sétima Legião olhavam para o mar com o nosso fado em coabitação com a negritude do Atlântico Norte, os Heróis do Mar ensaiavam a introdução aos sintetizadoresos, os GNR recorriam ao recorte clássico deixando para trás o galopante “pizzicatto” do baixo, tão característico de todos de Nova Iorque a Londres, algures no universo António Variações fundiu o popular com erudito como mais niguém o fez até hoje – é o nosso Arthur Russell -, e os Mler Ife Dada realizaram um dos mais belos discos da década de 80, levando para os limites do contemporâneo, a pop. Ainda tivemos os Pop Del Arte, a fazerem cultura popular com colagens e voz alucinante de João Peste, com tempo para criarem um hino aos acontecimentos do Maio de 86.
Contudo, o classicismo belo descrito - com arrojo estéctico ou formalmente construido pelos espantosos Prefab Sprout - estava prestes a ser quase arrasado. A poesia poderia vir da rua ou de um ambiente bucólico, mas a sustentação sonora passava a viver de sons recicláveis. Era o advento de uma nova era.


World Music

As etiquetas de catalogação, surgem por vontade da indústria, mas, apesar de tudo, nem sempre é esta a lançar a moda, antes criada pelos músicos, de forma consciente ou não, e veículada pelos media. Em Inglaterra, a BBC Radio exerce efectivamente serviço público. A divulgação de música ainda tem algum critério, sobretudo graças aos locutores. Se o mítico John Peel era sempre citado, outros também foram inovadores. Em 1987, o Sr. Andy Kershaw fazia um programa de músicas estranhas. Ouviam-se cânticos de Elvis Presley entoados em regime “country”, o que até nem destoaria, sons de variadas partes do mundo, como se uma pesquisa étnica se tratasse. Tudo isto se juntou numa colectânea chamada “Great Moments Of Vinyl History”, e sem dor terá nascido a World Music.
Acima de tudo, World Music, é um reactivar de conceitos vindos dos anos 60 e 70. Os Beatles já tinham inserido a cítara em Revolver, os Masters Musitians of Jajouka fascinaram Mick Jagger e gravaram com Ornette Coleman, Ravi Shankar foi adulado pela multidão de Woodstock e a cantora Miriam Makeba teve o sucesso “Pata Pata”.
Os nomes citados no parágrafo anterior foram apenas exemplo para soluções vindouras. A World Music poderia ser um encontro do rock com o mundo árabe – C Cat Trance, Saqqara Dogs, 3 Mustaphas 3 -, uma revitalização disco de influências hebraicas – Ofra Haza – ou até o renascimento do calipso – Joe Arroyo. Enfim, criou-se um saco sem fundo, para lá colocar tudo aquilo que não era imediatamente reconhecível de acordo com os padrões pop ocidentais. Dessa época registaram-se dois grandes êxitos: os álbuns "Akwaba Beach" (de onde saiu o "hit" “Yéké Yéké”) de Mory Kanté e Graceland da estrela Paul Simon. Finalmente, a World Music serviu de refúgio para todos os que não quiseram seguir a evolução da pop, achando-se, somente por isso, mais eruditos. Mas há que louvar o trabalho feito pela W.O.M.A.D. ( World Of Music Arts and Dance) e a Real World de Peter Gabriel.


Anos 90

Os anos 90 foram a síntese de tudo o que se foi passando das décadas já descritas, mas sempre com um vector de futurismo.


Hip-Hop

Reza a lenda que foi o DJ Jamaicano Koo Herc que em 1967 levou para Nova Iorque os seu “sound-system”. Animando festas na rua, foi o primeiro responsável pelo “cutting”. Tocando nos seus gira-discos música Jamaicana, teve de passar para o funk, isso era o pretendido pelas pessoas, mas só passava as partes instrumentais. Nascia o conceito do Djing, e também, de certa forma, um outro “instrumento” surgia.
Quase à semelhança também da Jamaica, onde nos “sound-systems” os DJ’s exultavam a alegria da população que os seguia, alguns dizeres foram sendo declamados sobre o contexto musical presente. Era como se fosse uma consversa - rap- que se tinha de forma sincopada. As histórias eram banais e tinham a ver com vida fácil, raparigas e carros. Ainda não se tinha chegado à fase do protesto. Como esta cultura era negra, o cariz social das disputas entre “gangs” no bairro Nova Iorquino Bronx, era quase transposto para o “rap”. As tatuagens não eram feitas no corpo, mas nas paredes (os famosos graffitis), demarcando territórios de intervenção, e para que um DJ conseguisse actuar, necessitava de uma bando de apoiantes. Não havendo própriamnete violência, a tensão estava presente. Isso implicava que, no fundo, esta nova versão de “sound-systems”, trouxesse os seus “poetas”, e a interacção entre eles era determinante para agarrar o povo ouvinte.
Mais tarde, quando esta cultura de rua ganhou corpo e passou para disco, inciou-se o “scratching”, o “speaker” poderia ser só um, e até no limite se recorreu aos instrumentos tradicionais para simular o que com o gira-discos era construido.
Da década de 80, vieram nomes a serem considerados como faróis para os anos vindouros: DJ Grandmaster Flash, um virtuoso do gira-discos, e Afrika Bambaataa, além do facto visionário de de forma quase inconsciente trazer para a pop sons de música seguindo a tradição concreta de “Études aux Trains” de Pierre Schaefer do início do Século XX, e de Autobahn dos experimentalistas Kraftwerk na década de 80, anticipando a Aldeia Global do também do rock, chamando-lhe “Planet Rock”.
O hip-hop\rap, consolidou-se e assumiu o estatuto de música. Entrou na década de 90 já numa fase relativamente adulta. Da rua passou para o estúdio, mas nunca esqueceu quer o lema da luta, ou o seu lado lúdico. Os Public Enemy fizeram da agressividade um espelho social rude das etnias negras, para quem os direitos cívicos não eram de todo um dado adquirido, e podem-se considerar os legítimos herdeiros dos poetas interventivos, refiro-me aos Last Poets e Gil Scott Heron. Contudo os mais cáusticos rappers, não tõs duros sónicamente como Public, mas com um discurso de crónicas de alerta social, foram os Diposibles Heores of Hiphoprasy com o sugestivo título, Hicrasy Is The Greatest Luxury. Nunca mais esquecerei as célebres palavras "television is the drug of the nation, breeding ignorance and feeding radiation" - actualidade acutilante, sobretudo se pensarem no nosso país, não acham?
Mas o hip-hop, como cultura negra, saíu do geto, e quase se tornou bucólico. Os De La Soul resolveram mostrar ao mundo como fazer um álbum conceptual, à semelhança dos do rock, e ainda no final dos 80, lançaram o divertido “3 Feet Hiigh And Rising”. A capa estava cheia de flores, logo a dureza das palavras não estava presente, e até o fundo cultural de onde buscaram a matéria prima reciclável já não era somente o funk\soul, podia até inserir-se um “sample” de uma lição de francês.
Veio então a década de 90. O “sampler” já existia – bem como as caixas de ritmo -, sendo então o catalizador de uma combustão musical vinda dos resíduos deixados ao longo do tempo. Mas agora o funk\soul já não eram o composto fundamental do “puzzle” constituído por “loops”. Um outro legado seria redescoberto.
Quando os Canadianos Dream Warriors editaram o seu primerio álbum, o título era revelador do conteúdo musical esperado: “And Now The Legacy Begins”. Logo no início ouvia-se o seguinte diálogo: “What the fuck is this? My definition of a boombastic jazz stlyle”. Realmente. Agora não tínhamos Amstrong, Bird, Davis, Coltrane, Max Roach a improvisarem, mas a sua pulsação deixada para as outras gerações era sentida. Da mesma casta, mas vindos dos EUA, os Gang Starr, da dupla Guru e DJ Premier, fizeram “Step In The Arena”. O jazz era omnipresente, o discurso lúcido, de carácter social e conciso, a partícula lúdica poderia estar presente, mas agora, num estado de melancolia. Se até agora, as citações do música negra que chegou a ser popular eram implícitas, surgiu também a citação explícita, com a colectânea “The Rebirth Of Cool”, numa clara alusão ao álbum “Birth Of Cool” de Miles Davis. O “sample” começava a confundir-se com o instrumento real, a fronteira entre o real e ficção perdia-se, afinal esta nova música transmitia o mesmo sabor de estranheza, tradução do ritmo da alma, vontade de experimentar, que o jazz teve ao longo da sua vida. Não tardaria muito para os instrumentistas se chegarem aos DJ’s e rappers, edificando um composto que rapidamente voltaria a ser considerado elemento.
A Tribe Called Quest convida o baixista Ron Carter para com eles tocar, em “The Low And The Theory”, a própria Blue Note, não poderia ficar indiferente à “pilhagem” criativa do seu arquivo e resolve virtualmente ressuscitar uma “cookin’ session” com os Us 3 – álbum “Hands On The Torch” - e Guru publica o primeiro Jazzmatazz – “..an experiment of fusion of hip-hop and jazz musitians” -, encontrando-se assim definitivamente, um novo isótopo do jazz. E para consolidar de forma irrepreensível a experiência, os Japoneses United Future Organization repõem o hard-bop e o jazz-bossa, numa fantástica “jam-session” de gira-discos.
O gira-discos, que tinha sido usado como fonte sonora para as organizações sonoras artísticas dos músicos concretos, passava agora a ser instrumento efectivo de composição. Mais uma porta se abria, o apelo ao sonho e a canção encontrariam um novo espaço de crescimento.


Trip-Hop

O gira-discos, ganhou algum sentido de ser usado como instrumento musical, através dos “sound-systems” jamaicanos e do “cutting” introduzido por DJ Kool Herc. Através do “sampler”, os discos perdidos foram utilizados para gerar a base sonora ideal do hip-hop e sob este signo, encontrou-se forma de estes interagirem com os instrumentos tradicionais. Faltava agora criar efectivamente uma canção edificada só com “samples”.
No final de 1989, os Deee-Lite e os Soul Too Soul deram os primeiros passos rumo a um novo classicismo, e se os primeiros quase recriaram o mundo lúdico do cosmos como os Parliement chamando-lhe “World Clique”, os segundos assumiram-se como responsáveis de uma nova criação com “Club Classics Volume 1”.
Como aconteceu em Nova Iorque, também em Inglaterra os jamaicanos não deixaram de influenciar o curso da música popular, e os seus populares “sound-systems”, eram nota presente em todas as comunidades deste povo espalhado pelas ilhas. Em St. Paul, bairro da cidade de Bristol, existia um “Wild Bunch”, no fundo os Massive Attack, de visões alargadas da música. Afirmavam gostar de Pink Floyd a Joy Division, mas sendo a sua base originária “azul”, reolveram traçar “Blue Lines”, e não tendo todos formação instrumental, reocorreram ao gira-discos e ao “sampler” para realizarem canções. As influências estenderam-se à vizinha cidade de Portishead, onde aí quem conhecia amigos que tocavam instrumentos, uma menina de voz docemente consistente, criava um grupo pop. Aqui, a situação ia um pouco mais longe, em relação aos Massive, e o gira-discos era definitivamente integrado numa banda, tal como uma bateria ou guitarra, ora com a função de “instrumento” ou antes dando o mote para a construção da canção.
Quase à semelhança do “krautrock”, as experiênicas electro-acústicas são agora repetidas, recorrendo claro aos instrumentos da moda, o gira-discos e o “sampler”. Em Londres, uma pequena editora, amante do vinil, logo chamava-se Mo’Wax (conduzida por James Lavelle), fazia a nova ponte a ligar o contemporâneo e o hip-hop, realizando um compêndio sobre esta matéria a que chamou “Headz” – a capa era brilhante, com uma cabeça em fogo a servir de disco. Terá sido sobretudo ao caracter alucinatório deste novo mundo que a revista inglesa Mix Mag lhe concedeu o rótulo de “trip-hop”.
E no meio de toda esta história houve um rapaz do “Wild Bunch” que se zangou com os amigos, colocou um explosivo forte no epicentro da corrente, aproveitou os estilhaços, mas em vez de reconstruir o objecto, antes colocou as partículas em órbita de uma concepção profunda de música negra. O responsável foi Tricky com o álbum Maxinquaye. A atenção, nem só da Mo' Wax - apesar de contar também com DJ Shadow (Americano) e DJ Krush (Japonês) -, viveu o trip-hop, ouçam o divertido Big Soup de Luke Vibert.
O trip-hop ganhou direito a categoria estéctica nos anos 90, mas, como tudo na vida, foi absorvido, confundido pela poderosa indústria e, igualmente, por todos aqueles que não conhecendo a matéria posta à sua disposição, optaram por este modo de catalogação.


Acid-Jazz

Dois amigos, vivendo um deles num bairro típico de Londres, o Soho, por cima de uma excelente loja de discos, iam comprando discos de funk-jazz perdidos no tempo, divulgando-os aos amigos. Patrick Forge foi e é DJ na rádio Londrina Kiss FM e Gilles Peterson, agora também radialista na BBC, fundou a editora Talkin’ Loud (nome tirado de uma canção de James Brown).
A base de inspiração da Talkin’ Loud assentou em dois pilares: o da música negra dos anos 70, essencialmente o funk-jazz da “blaxpotation” e dos poetas; e ainda no jazz eléctrico sincopado da editora alemã MPS. Os primeiros álbuns desta editora são deslumbrantes. Galliano, hoje conhecido como Earl Zinger os mesmo Rob Gallagher dos Two Banks Of Four", com “In The Puruit Of The Thirteenth Note” (numa alusão a Art Blakey que acreditava ser possível construir uma escala “diatónica” com 13 frequências), declamou as dificuldades sociais de alguns negros, fabuloso o tema “Little Ghetto Boy”, tudo isto sobre um funk irrepreensivelmente sincopado. Os Young Disciples, publicaram “Road To Freedom”, onde a canção funk-jazz renascia com uma frescura de quem cria algo de novo.
E o Norte, não se conectou? Afinal, era dos seus portos que chegavam os discos soul importados dos EUA! Claro, que para o “rare goove” Londrino, teve uma diminuta réplica, mas globalmente, foi primordial. Manchester voltou a rugir, pondo à nossa disposição os Chapter And The Verse. Dois álbuns diferentes, que reflectem dois estados de evolução da alma. “Great Western Street”, começa com uma peça deliciosa de jazz transgénico – a sua raíz foi genéticamente alterada para um ambiente pop – de crítica social à Inglaterra de Srª. Thatcher (chamava-se “The Black Whip”), mas depois avançava para o soul, com um ligeiríssimo paço em frente, comparativamente aos Soul Too Soul. Em “Renewed Testament” título definidor do que se iria encontrar ( e igualmente importante como “And Now The Lagacy Begins”), estamos num esplendor de jazz-transgénico, com “samples” de frases melódicas institucionais, textos contundentes na melhor tradição da “black poetry”. Um mundo maravilhosmente iluminado pelo negro. Raramente citados, este é um segredo que partilho, mas, por favor, não contem isto a muita gente, pois esta música deve permanecer para apaixonados e não para os “novos aderentes”, esses não a merecem!
Mais editoras foram surgindo, como a Dorado Records, cujo catálogo continha a excelente Jhelisa, Cool Breeze e ainda os importantes D-Note, numa fronteira entre o "acid-jazz" e o futuro “jungle”. Outro dos nomes interessantes desta época inicial da década de 90 foram os Working Week. Falta apenas responder a uma questão: porquê "acid-jazz"? Tão simplesmente porque esta música foi ressuscitada nas disotecas, onde para apurar os sentidos se consumiam algumas drogas ácidas. Reza aliás a lenda que Gilles Peterson passava hard-bop, quando alguém lhe trouxe uns discos de “house” de Chicago, misturando a música de um com o ritmo forte da electrónica de outro, nasceu o “acid-jazz”.
Bossa Nova

Um dos capítulos do acid-jazz, que nasceu como consequência da redescoberta do “rare-roove” dos anos 70, é a bossa nova. No álbum “Jazzin’” dos UFO, havia duas versões mirabolantes para uma canção de Van Morrison -" Moondance". A primeira, era muito colada à bossa nova, enquanto a seguna, estava embebida de um espírito “cool”, desfilando como uma suave brisa quente de verão pela alma. Os dois álbuns posteriores do trio japonês, “UFO” e “No Sound Is Too Taboo”, revitalizavam o jazz-bossa, recorrendo até aos clássicos- o caso da versão de “Upa Neguinho” de Edu Lobo em UFO. Mais japoneses, se interssaram pelo Brasil, como Child's View, Nobukazu Takemura e até DJ Towa Tei, dos Dee-Lite – não percam “Future Listening”-, e para perceber melhor as bases de inspiração, a Talkin’ Loud editou “Brasílica”, alinhando Edu Lobo, Elis Regina, Baden Powell ou até Gilberto Gil ( o actual Ministro da Cultura Brasileiro). A açucar musical, sobe rápidamente no sangue, perante estes autores, pelo que se aconselham suaves doses, devido à doce densidade musical.
House

O “house” foi oiriginário de uma experiência, ainda nos anos 80, de “Armazém” de Chicago (“Warehouse”), onde o DJ Frankie Knuckles, com uma rudimentar caixa de ritmos acentuava o espelendor dançável de Filadélfia. Com o advento da máquina Roland TB-303 “bass-line machine”, começou-se a exercitar um acto minimalista de apelo à dança, lança-do-se para a pista umas “Acid-Tracks” (no fundo eram apenas pistas de baixo e bateria que estavam gravadas) dos que previram quase o futuro – DJ Pierre, Spanky, Herb Jackson e o produtor Marshall Jefferson resolveram chamar-se ... Phuture. Para a história, consta que quando também em Chicago no clube Music Box, quando se passou “Acid Tracks”, pela primeira vez, o povo julgava que as canalizações de água, tinham sido contaminadas por com LSD, daí o título da música em questão.
Sendo um estilo de música negra, todo o legado do jazz ao soul, até porque ambas as formas musicais apelavam ao mobvimento do corpo, navas fusões iriam surgir. O grupo Mr. Fungers, com Larry Heard com Robert Owens, gravou “Washing Machine”, traduzindo de forma analogical, o que o som eletrónico da Roland fazia. Chamou-se a este estilo “Deep House”. Dentro deste campo, o produtor Marshall Jefferson, já aqui mencionado, trouxe ao mundo discos lindos, rítmicamente fuilos com o parto-de-choque (o “hi-hat”) a fazer uma maravilhosa subdivisão do compasso e ainda por cima, contou também com Kim Mazzelle dos Soul Too Soul. Já perto do final da década de 80, os Blaze, traziam o maravilhoso “25 Yaers Later”, com a recuperação do todo o acervo da Motown, visto à luz dos últimos movimentos.
O “house”, não ficaria confinado aos EUA, à semelhança da sua génese, o “disco”. A “club culture”, instalou-se na Europa Central, principalmente em Inglaterra e França.
Nas Ilhas, Herbert, a princípio, reformulou o “deep-house”, agora com máquinas, mas, como é conhecida a sua história, este momento, foi apenas um pretexto para, dentro deste contexto estéctico, estender a sua visão sonora do mundo, iniciada no seu pseudónimo Dr. Rockit, o álbum “The Music Of Sound”. “Bodly Functions” seria o melhor corolário do acto “electro-acústico” no seio do “house”. Outro nome importante, foi também Asley Beeldle. Primeiro gravou um disco com tangentes cortantes traçadas à alma à velicade do som, provocando belos calafrio na espinha; chamava-se “London Hooligan Soul”, sob o signo de “Ballistic Brothers”. Depois, resolveu aquecer o corpo, mantendo-o contudo preso a movimentos precisos aerodinâmicos, pois sobrevoava-se África, resolvendo projectar as fotografias aéreas num espaço visionário. Essas maravilhosas imagens musicais foram intituladas de “Future Juju”. Foi neste momento que eu li pela primeira vez o termo “juju”, estilo de música africana baseada na percussão, e só me apercebi realmente do valor contido na obra atrás descrita, ao ouvir o documentário sonoro na colectânea “Nigeria 70”
Entretanto em França, revivia-se a história de Paris ter sido terra de jazz, quer com músicos locais o excelente guitarrista Django Reinhardt, ou servindo de albergue artístico para os que se sentiam racial e artísticamente descrimindos nos EUA – o “free jazz” ganhou espaço de libertação, através da editora Jazz Actuel e até Miles Davis se apaixonou por Julliete Gréco e compôs para o filme de Louis Malle “Ascenseur Pour L’echafaud”. O bairro do gozo, era o “Boulevard de Saint-Germain”. Ludovic Navarre trocou a ordem das palavras e criou o nome artístico de St.Garmain para o esplendoroso álbum de deep-house-hard-bop-blues intitulado “Boulevard”.
Ainda em Paris, Philipe Zdar e Étienne de Crécy, revitalizavam as “acid tracks”, com um pouquinho mais de orquestração, relembrando que o baixo tinha sido, e continuaria a ser, o elemento que retirava os corpos da inércia, não esquecendo a história, pois foi afinal a “alma” quem permitiu o nascimento do “house”, atravessando oceanos, cujas ondas arrastaram uma nova cultura também para a Europa. Perante os estes factos, a dupla mencionada, intitulou-se Motorbass com o álbum “Pansoul”.
De França, veio mais criatividade, que abordaremos no sub-capítulo “A Questão de Europa Central”, mas para o “house”, só de Crécy fez uma edição interessante, ressuscitando o conceito pop das “Brillo Boxes” de Warhol, com a belíssima colectânea “Super Discount” – onde a edição em vinil, era deliciosa, pois eram quatro maxis de 10”, cujas capas eram peças do “puzzle” da imagem final, presente da edição em CD. E os Daft Punk, estarão esquecidos? Eles que andaram “Around The World” em todas as rádios! Para a mim, a única música credível destes senhores, chama-se ... “Musique” e vem integrada na colectânea “Source Lab Volume 2”.
Como em tudo, na vida, o “house” evoluiu, e depois do frenesim da pista de dança, as pessoas resolveram começar a relaxar, nos mesmos clubes onde antes dançavam. O “ecstasy” dava origem ao “chill out”, e o “house” ganhava o prefixo de “ambient”. Mas música, não perdeu interesse, evitou esse perigo de “coisa pseudo interessante de quem quer ser intelectual sem o ser” que era a “new age”, antes avançou em direcção ao futuro, graças à disponibilização de novos meios electrónicos. Os sintetizadores, já eram polifónicos, as máquinas de ritmo começavam a permitir programação e a gravação digital começava a ser uma realidade, permitindo aos músicos terem eles próprios o seu estúdio, permintindo-lhes experimentar a relativo baixo custo. O sonho, através da realiadade virtual, começou a ser palpável.
No primeiro álbum dos Orb, logo na faixa de abertura sonhava-se com as nuvens de um céu talvez impossível de existir físicamente, pois o trabalho de longa duração eram “Adventures Beyond The Ultraworld”. No segundo álbum, revivia-se a história do programa espacial soviético, e alguém por engano ligava para a BBC procurando o mito jamaicano Marcus Garvey, numa espantosa homenagem ao dub e blues, em simultâneo.
Os Future Sound Of London provavelmente teriam lido um artigo sobre o acelerador de pretículas europeu, e rumavam ao futuro usando preimeiro um catalizador, “Accelerator” e depois recorrendo à via digital para comunicar com o “além” através da “ISDN (Integrated Services Digital Network)”.
Outros discos foram editados, como “Chill Out” dos KLF ou uma colectânea organizada chamada “Free Zone-Chill Out” por um músico Isrealita residente em Bruxelas, com o pseudónimo de DJ Morpheus (seu verdadeiro nome é Samy Birnbach e pertenceu aos interessantes Minimal Compact); no entanto, para mim, o disco que mais gostei de “ambient house” foi “Ko Opera” dos Sudden Sway. Ouvi-o vezes sem conta, tenho dois vinis de reserva, e deliciei-me com canções corrosivamente cáusticas como “Byron Of The Cocolatheria”. Somos, poucos, felizmente, os que temos este álbum - pelo menos uma sondagem pessoal assim mo confirma - e assim, ficamos com um tesouro não exposto a todos quantos de um momento para o outro começaram a ouvir “muzca de dança”. Já agora, não percam “Don’t Stop The Night”(1989) de Momus, menos “ambient”, mas “electro”, mas as palavras, são embebidas de ácido sulfúrico bebível.
O “house”, foi, e é, apenas mais uma alínea na extensa história da música electrónica, ramo pop, com especial paralelismo com o “techno” dos também pioneiros de Detroit (que já não tinha a jóia Motown, pois mundou-se para Los Angeles em1972), como Juan Atkins, Derrick May e Theo Parish (que podemos ouvir na homenagem a Sun Ra em 2004), não esquecendo os veteranos (já vinham dos anos 80) experimentalistas Japoneses Yellow Magic Orchestra, onde pontificava Ryuichy Sakamoto - no álbum Heartbeat com colaboração de Satochi Tommie tem duas faixas de excelente "deep house". As suas origens, estão na fusão da “soul” com a libertação da tecnologia digital, mas ouçam os Sharks na colectânea “Studio One Funk”, para se aperceberem da inevitabilidade da semente jamaicana em quase toda e música de dança.
Jungle-A Partícula de Hidrogénio
Um dos dos produtos mais interessantes da pop, nos anos 90, e, talvez, aquela em que o futuro se tornou um modo de vida permanente.
Terão sido duas as vertentes para o nascimento desta música. Primeiro, as “raves”, que iam acontecendo por toda a Inglaterra, com um som fortíssimo, consideram os historiadores “hardcore”. Um dos exemplos destes momentos foram os Prodigy. Mas os índices sonoros atingidos nas festas, eram considerados cívicamente insurpotáveis, pelo que a indústria e imprensa, resolveram ignorar esta corrente, asfixiando-a. Além disso, o governo da Srª Thatcher, resolveu legislar uma lei, a “Criminal Justice Bill”, onde se limitavam actividades e níveis de décibeis a serem emitidos. A crítica não se fez esperar, e os D-Note gritaram por justiça. Parte da gente de rua, ficou orfã de actividade lúdica e musical, mas um substracto de cinzas reletivamente incasdescentes, permitiu reacender, com cuidado, o lume.
Quase à semelhança do “hip-hop” e “house”, quando a tecnologia disponibilizada no mercado ia crescendo em capacidade, a música fou ganhando novos contornos. Agora foi o “smapler” Akai S1000, que permitia acelerar o ritmo, sem alterar o “pitch” – algo inpossível nos gira-discos utilizados em discoteca, por exemplo. Pegando no legado do “hip-hop”, arrebatando a energia das “raves” e introduzindo pequenos efeitos sonoros, as sementes do “jungle” começaram a nascer. Os pieneiros foram os Shut Up And Dance e os SUAD. No fundo, o “beat” do hip-hop, era acelerado dos 80-90bpm, para os 126-130bpm.
Qual terá sido o prinmeiro disco de “jungle”? Niguém sabe dar uma resposta concreta. Os primeiros que ouvi, foram um EP dos Unic 3 e o suberbo álbum de Nicollette – a quem chamaram “Billie Hollyday on acid” – com o premonitório título “Now Is Early”. Nesta fase, o “jungle” estava na seu estado mais simples, apenas “drum and bass”, uma outra designação mas eu continuo a preferir a primeira.
Até agora, só mencionamos a vertente puramente electrónica, mas existe outra mais profunda. Nos anos 30, chegou-se a chamar ao jazz “jungle music”, pois este traduzia o frenesim da edificação das grandes cidades americanas. Mais tarde, nos anos 70, houve um disco de dub dos Upssetters de "Scratch" Lee Perry, com o título de “Jungle Black Board”. E a via “dub”, viria a ser igualmente responsável pelo “jungle”, sobretudo pela sua matriz rítimica padrão – ouçam, por exemplo a remistura dos Smith & Mighty no primeiro volume da colectânea “Music No Name” para Madala Kunene, o tema Ubombo.
O “jungle” estableceu-se de forma sonora rígida e dura, nos início, mas estaria para a música, como o hidrogénio está para a matéria. Igualmente, aqui o futuro, estava sempre a acontecer.O grande álbum a marcar estes tempos, é indidcutívelmente “Timeless” de Goldie, com uma abertura pura e dura, evoluindo depois, para a canção “soul”, uma das correntes a que o “jungle” se associou. Aconselho também“Equations” dos Endemic Void. Outros dois discos incontornáveis, são “Parellel Universe” dos 4 Hero e “The Sound Of Music” de Nookie. Ambos ressuscitaram a fusão visionária do “4º Mundo” do saxofonista Jon Hassell e Brian Eno, mas avançaram um pouco, devido ao minimalismo sonoro e ritmo frenético, onde assentavam as suas bases de trabalho.
Mas, já aqui encontrámos a palavra “jungle” associada ao “jazz” e mencionámos a questão da partícula de hidrogénio, pelo que iniciamos agora uma nova viagem. O “jungle jazz”, teve três interpretes essencias, James Hardaway, Squarepusher e os Jaz Klash.O primeiro é David Arrow, músico que gravou com Jah Wobble ( o baixista dos PIL). O seu álbum “Deeper Wider Smoother Shit”, traz logo na abertura um solo de saxofone, prosseguindo por esta veia e “Welcome To The Neon Lounge” acentua o espírito estranho dos clubes de jazz em início de Século XX. Saquarepusher, fez em “Feed Me Weird Things” a banda sonora ideal para um “reamake” de “Alphaville” de Jean-Luc Godard (este é o melhor eleogio que consigo encontrar), e os Jaz Klash sintetizam os dois mundos da palavra “jungle” em “Thru The Haze”.
Depois do encontro com o jazz e a canção “soul”, faltava ao “jungle” espaço para criar a sua própria ficção, e assim o fez através dos Foul Play, com álbum “Suspected”. E como se estava na presença de uma nova linguagem, a comunidade Indiana, viu aqui uma forma de expressão da sua cultura. Shri, a solo ou com Badmarsh, e mais tarde Jolly Mukerjee revivendo “Bollywood” à luz da modernidade, adoptaram o baixo e a bateria- também o átomo de hidrogénio é o mais simples que encontramos na tabela periódica -, essência desta corrente, como chássis de suporte da tradição sua musical.
Soul, jazz, África, músicas de expressão étnica, blues e country – quem não se lembra da violenta beleza das três primeiras canções do autointitulado álbum dos Lamb? -, foram os campos ao que o “jungle” se associou, criando novos compostos, tal como um átomo de hidrogénio na natureza – com o óxigénio temos água, com o cloro obtém-se ácido clorídrico.
Ainda uma nota final. O "jungle", permitiu a quem o ouviu, sonhar com o futuro e estar a viver em permanência, um factor de risco, e foi também uma escola primordial para o renascimento do "rare groove". Kid Loops Vs. Cool Breeze, aproximaram o mundo do "acid-jazz" e "jungle", e os 4Hero, arriscaram ao fazerem uma bela regressão linear, deixando a electrónica e voltando à síncope realizada por instrumentos nesse belíssimo álbum que é "Criating Patterns".

A Questão da Europa Central

Com a facilidade de circulação de bens culturais, e o facto do DJ ser elevado a um estatuto de culto, tudo o que até agora se tinha passado essencilamente no mundo anglo-saxónico, espalhou-se pela Europa. Os “samplers” os gira-discos Technichs, eram agora armas intrernacionais de composição. Mas, nunca poderemos esquecer a tradição da múscia electroacústica do nosso continente.

Viena

A “Questão da Europa Central”, começou na minha vida, com a compra da colectânea “Vienna Tone”. Muitos trabalhos lá vinham, apesar da ausência da dupla mais conhecida da cidade da valsa, Kruder&Dorfemeister, estando este último contudo presente com Rupert Huber com os Tosca. A música soava a nobidade que via a luz do dia pela primeira vez.
Uma vez estabelecida uma base de lançamento, Viena tornar-se-ia local de peregrinação pop. Peter Kruder e Richard Dorfmeister, embora mais conhecidos pelas suas remisturas, tiveram um EP excelente – G Stoned EP. Sentia-se uma vanguarda mais intelctual, em comparação com os Portishead ou Massive Attack, e quando Dorfmeister se associa a Huber formando os Tosca, o álbum Opera, é como definitivamente o hip-hop se tivesse encontrado com a música electroacústica. Absolutamente esplendoroso. Já o segundo disco desta dupla, Suzuki, vai pela via electrónica, provando que ainda havia espaço de manobra para o futuro, sobretudo se se usasse o legado cultural europeu. Também Peter Kruder fez o seu solo, através dos “Peace Orchestra”, onde os “blues” se sentem revitalizados para prosseguirem no caminho do Século XXI.
Outra gente importante de Viena, e tão na moda agora, foram os Sofa Surfers. O nome que escolheram para o grupo, é um imediato apelo ao sonho, e recorreram ao “dub” no início para corporizar os sonhos, procurando torná-los reais, ou pelo mesno em “Transit” pelo mundo virtual palpável. No segundo disco, “Cargo”, sente-se o legado do krautrock em fusão com o “dub”. Foram execelnetes, mas para mim, perderam o interesse a partir do terceiro disco. Mas, afinal, é um pecado comum a muitos; nem os Toscas com dois Mestres, deixaram de resvalar para a banalidade
Pouco citado, pois o seu nome não faz parte do dupla sagrada de Viena, mas belo, soul virado para a contemporaneidade, é o álbum “Balance Of The Force” de Waldeck. O som ambiental no seio da canção soul de recorte clássico, há até uma versão de “Aquarius” do célebre musical "Air", alternando com temas instrumentais, tornam este disco um momento ideal para sonhar, aquecendo a alma se tal for necessário.
Várias colectâneas sobre Viena, surgiriam, como “Vienna Scientists”, mas para mim, maioritáriamente, não passam de sub-produtos de uma certa indústria discográfica, aproveitando a “onda”. Para o fim da década, teríamos ainda direito aos excelentes Madrid de Los Austrias e os belíssimos Dzihan&Kamien.
França

França, sempre foi berço de acolhimento de várias culturas, até me virtude das suas colónias africana. Sendo o hip-hop, um estilo vindo de afro-americanos, não era de estranhar que os equivalentes Franceses em breve começassem a praticá-lo. Não houve, e na minha opinião ainda bem, nunca o ramo do “gangts rap”, como nos Estados Unidos. Pelo contrário, o jazz ou antes o seu sentimento “cool”, implementaou-se no rap francês.
MC Solar, foi o primeiro nome a ser conhecido. O seu álbum “Qui Sème Récolte Le Tempo”, é um exclente conjunto de histórias que poderiam desembocar em excelentes séries de televisão de qualidade. Quanto ao suporte musical fornecido pelo DJ Jimmy Jay, ia do jazz-funk, até a um leve “stride” de piano. Depois, houve também Soon EMC, com o histórico “Rap,Soul Jazz” e ainda a obra “progressiva” dos I AM.
Quanto aos Air, estavam longe de serem conhecidos, mas apareciam no curiosa de fusão de suave experimentalismo electrónico e “easy-listning”, no primeiro volume das colectâneas Source Lab. Este, está para esta “nova vaga” -permitam-me a expressão, pois foi quase tão importante como a “Nouvelle Vague” do cienema dos anos 60 -, como “Headz” esteve para Inglaterra e o mundo pop, com a vantagem, de o segundo volume, ter trazido a confirmação da vontade de progresso, o que não aconteceu com a congénere Inglesa em segunda edição.
Do hip-hop, avançou-se para o “house”, como já foi mencionado em capítulo próprio, e até para o “jungle” – aconselho vivamente o primeiro volume da colectânea “Future Sound Of Paris -, mas também para a soul, psicadélica ou não, como foi o caso dos Bang Bang.
Olhámos para França, como quem busca aventura naturalista com charme, durante cerca de dois anos. Hoje, com uma cena muito mais reduzida, o legado da cinema descritivo em regime de quem conta uma história, ou procurando reviver a “blaxpotation”, o que não é estranho de todo afinal a “Nouvelle Vgaue” apoiou-se no cinema clássico americano, é feita pelos “Trouble Makers”. Por fim, apesar de França nunca ter contribuído muito para os padrões anglo-saxónicos da pop, a não ser nesta época, teve um homem que é um culto na música electrónica, Jean-jacqaues Perrey. É um senhor importante na história de utilização do sintetizador “moog”, e muito citado. Podemos ouvir um “sample” seu, no álbum “Step In The Arena” dos Gang Starr.
Alemanha
Aqui estou a pisar um terreno, onde ma falta a memória, mas tirando o álbum “Man Machine” dos Kraftwerk, e dpoies, devido à ignorância, só por volta de 1997, voltei a entrar em contacto com os alemães através do álbum auto-intitulado Fresh Moods. Era um “ambient house” muito interessante, com o espírito de acid-jazz incutido – logo na primeira música ouvia-se um “sample” do primeiro volume de Jazzmatazz. Seguiu-se logo a seguir o jazz electrónico sofisticado dos Slop Shop, álbum Macrodelia.
Também da Alemanha, vieram os deliciosos Karma. Começaram por ser um caleidoscópio de cores e emoções, como se a alma megulhasse numa felicidade imensa, tendo tido a coragem de no segundo álbum procurarem o factor de risco – “Thrill Seekers” -, demosntrando que o arrojo estéctico, não implica um som agreste ou uma electrónica dura, antes a subtileza da construção sonora.
Por volta de 1998, numa colectânea da editora OM, conhedi os Jazzanova. A música era suave, com influências de jazz vocal – vim a descobri mais tarde, que tinham um “sample” do grupo de jazz polaco dos anos 60\70, chamado Novi Singers. Fiquei fascinado. Pouco tempo depois, encontrei um CD single, onde vinham os temas Caravelle (música que os revelou para o mundo via Gilles Peterson) e Fedimes Flight. Estavamos perante um “bossa nova”, em ritmo acelerado, perto dos limites da derrapagem. Sentiam-se suores frios na espinha.Estamos perante o ressuscitar da ideologia MPS- editora alemã dos anos 60 e 70, e podem conhecer parte da sua obra através dos dois volumes da colectânea “Between Or Beyond The Black Forest”. Aliás, “Jazzanova”, é o nome de uma canção de Rosinha de Valença que gravou para a MPS – saída de fileira dos rádios e leitores de cartuchos, para carro, Saba. Este grupo de produtores\DJ’s alemães, é sobretudo conhecido pelas fabulosas remisturas condensadas num CD duplo, apesar do LP “In Between”, não ser desprovido de interesse. Dois quintos deste colectivo (assim utilizo uma linguagem tão queria aos profissionais da nossa praça), são os Extended Spirit, cujo álbum de 1999 “Solid water” ( e único até hoje), é quase uma obra-prima de bossa nova melancólica vista à luz da electrónica.
Comecei este capítulo, evocando os Kraft werk, e se alguém pegou neste archote, aceso há décadas e o levou para o futuro, foram os Mouse On Mars. Fizeram da electrónica um momento de alegoria rítmica e harmónica, nos seus três primeiros discos, atingindo a perfeição em “Autoditaker”, o terceiro a ser publicado.
Contudo, se houve disco que me apaixonou, vindo da Alemanha na déca de 90, foi Detunized Gravity dos De Phazz. Recebio-o sem saber o que era – tinha a loja Contraverso como reduto máximo para a compra de discos -, imediatamente me apaixonei. Era um disco de electrónica, que vagueava entre a canção virtual, o jazz de contornos pop, o “jungle” e claro, a consequência máxima de tudo isto, o “dub”. Para grande tristeza minha, e de muitos, a luz branca, ficou-se por aqui, pois a posterior, foi sujeita a um “fading” bem ao gosto do mercado.
Mas a pop, nem sempre é feita de momentos de génio, esses podem vir e desaparecer sem deixar rasto reconhecível; por vezes, a honestidade aliada a alguma capacidade criativa, é a melhor solução. Os Beanfield, em “Human Patterns” fizeram um disco bem mais consistente que os Jazzanova, e até se pode incluir, junto da classe de 99, com os já citados “Thrill Seekers” e “Solid Water”.
Conclusão

A questão da Europa Central, baseia-se em três peliares: diversidade de nacionalidades já esistentes no catálogo da MPS, o “djing” ultrapassou fronteiras e espalhou-se pelo mundo, e claro, como toda a música negra\electrónica desta década, uma actualização do conceito do jazz-funk dos anos 70. Depois disto, tivemos direito ao interessante Húngaro Marcel, e agora, são os nórdicos quem comandam. Felizmente, nem Portugal ficou imune, sobretudo através das colectâneas da Nylon, que vieram por fim consolidar a electrónica pop nacional, que até aqui, estava quase só representada pela compilação Rapública.


Jazz Transgénico

Muito se falou, e se fala, hoje em dia de jazz. Por tudo e por nada, põe-se uma etiqueta jazz, ao que efectivamente é pop – até apareceriam uns japoneses chamando-se Kyoto Jazz Massive. Por vezes, no entanto, as fronteiras quase se confundem (no caso dos Cinematic Orchestra são mesmo muito ténues), mas daí até estarmos dentro do jazz, sobretudo tendo em conta que a fonte de inspiração é sobretudo o hard-bop e o jazz-modal, vai alguma distância. Mas, como já afirmei, o descernimento torna-se difícil, e a música não é própriamente pop, na verdadeira acepção da palavra. Então, estamos perante um transgénico do jazz, onde na raíz se inseriram partículas pop.
Para mim, o primeiro caso de jazz transgénico, é o hard-bop ouvido no já mencionado “Jazzin’” dos UFO, tendo-se seguido as colectâneas Earth, Soul Food e Soul Addiction,promovidas por LTJ Bukem (um homem do “jungle”), sobretudo os três primeiros volumes. Já não era somente a citação do célebre “rare groove”, passou-se para alusões até das “big bands” – que Herbert não resistiria em recriar em 2003. Por vezes, chegou-se até ao limite do jazz modal.
Estes discos, foram muito importantes, para alguns de nós, pois obrigaram-nos a interrogações interiores, levando-nos a concluir a inevitabilidade de ouvirmos efectivamente jazz.
Para mim, após uma entrevista dos Cinematic Orchestra ao crítico Ricardo Saló do Expresso, onde estes afirmavam ser “A Love Supreme” de John Coltrane o seu disco favorito de jazz, a necessidade de o ouvir tal com este é, tornou-se inadiável. Agora já vou sabendo o que é jazz modal – mais um momento de pânico que me levou a ouvir duas vezes por dia “Kind Of Blue” de Miles Davis -, “dixieland”, be-bop, cool, hard-bop e “free”. Também já conheço as fases electréticas de Miles e Herbie Hancock, mas ainda tenho que conhecer uns célebres Tribe, pós-free, tão citados pelos Slicker em 2004.
Dub
A primeira vez que li a palavra “dub”, foi em Screamadelica” dos Primla Scream (que será alvo de destaque mais para a frente). Havia lá uma versão em “Dub Synphony” com Jah Wbble no baixo, da canção incluída no mesmo álbum “Higher Than The Sun”. Apenas achava estranho que a música estivesse desconstruída, ficando apenas com os alicerces, sendo dado destaque à linha de baixo. Contudo, só com “In Dub” dos Renegade Soundwave, versões “dub” de “Soundclash”, e após a leitura da crítica a este disco no semanário Expresso assinada por Ricardo Saló, fiquei a saber que “dub”, vinha de “dubplate” (a “bolacha” de vinil sobre a qual se gravava a música). O “dub”, foi veículo de experimentação para os cientistas sonoros jamaicanos, já mencionados no capítulo “Anos 70”, nos lados b dos “singles” de raggae. Terá surgido por sorte, quando um técnico de Duke Reid, um dos dois maiores produtores de musicais da Jamaica juntamente com Coxsone Dodd, se ter esquecido de incluir a pista de gravação da voz na “dubplate” para o DJ Ruddy Redwood, muito famoso em Spanish Town (ex-capital da Jamaica), nascendo um versão instrumental da canção.A partir deste momento, a música poderia estar sujeita à metamorfose, podendo contundo manter elementos reconhecíveis da sua estrutura rítmica, sobretudo, mas também harmónica.
King Tubby, vulgo Osbourne Ruddock, trabalhando para Duke Reid, foi o primeiro verdadeiro cientista a levar o “dub”, para o sincretismo entre a paixão e a ciência exacta, e o seu mais próximo seguidor, foi Lee “Scratch” Perry. Os postulados deixados por estes dois senhores, são um dos maiores contributos para a história da música electrónica da década de 90. Os Massive Attack, começam “Blue Lines” com uma impressinante linha de baixo envolvendo toda a canção, os Golden Palominos, mais um daqueles múltiplos projectos de um “master of dub” Bill Laswell, fizeram o “dub-rock” em “This Is How It Feels”, e o mesmo Sr., resolveu pegar nestas linhas azuis traçadas em traço grosso, para revelar ao mundo outra perspectiva sobre a fase eléctrica de Miles Davis, ou recordar Bob Marley via “dub” – aconselho este disco, como acto de início ao novo mundo.
Contudo, outras menções explícitas ao “dub” houveram. Os Thievery Corporation, deram-se a conhecer com os “Sound From The Thievery Hi-Fi”. A alusão à cultura jamaicana da ilha e de lá “exportada”, relaciona os “sound-systems” e o processo de “cutting”, que daria razão de ser à matriz sonora do “hip-hop”. Depois a capa, é maravilhosa. Na face princpal, vemos um “close-up” do braço de um gira-discos, mais uma referência à Jamaica, e no lado contrário havia uma fotografia de um gira-discos em forma de concha todo em plástico branco, o “design” é futurista, muito em voga nos anos 70. E a capa, corresponde exactamente à música lá dentro encontrada. Logo no ínício, temos um “toaster” (o equivalente ao nosso conhecido MC na Jamaica), avançando-se para uma aventura espacial, não esquecendo a Bossa Nova devido a um “sample” de Astrud Gilberto, e terminando em regime “jungle”. Tudo isto, criado nos seio do “dub”. Maravilhoso! No segundo álbum, de remisturas, a depuração orquestral, nem é tanto o conceito utilizado na totalidade, mas o título define tudo: “Abductions & Reconstructions”. Ouçam aqui, uma versão ska-dub-house-disco para os Rockers Hi-Fi (ler o próximo parágrafo), ou o deslumbramento tecno para “Avé Maria” de Edson Cordeiro. Para mim, não houve nos últimos dez anos, melhor álbum de redefinições ao não ser o dos Jazzanova.
Mais citações do mundo musical jamaicano, vieram também por parte dos Rockers Hi-Fi. Outra vez a alusão aos “sound-systems” e, sobretduo, o revelar de uma memória excelente, pois “rockers” foi o nome dado à matriz rítmica criada pela dupla Sly & Robbie (Sly Dunbar, baterista, e Robbie Shaspeare, baixista), que em 1999, voltariam com um disco de síntese da sua própria história, olhando contudo para o futuro, devido à participação do criador sonoro Howie B (amigo próximo dos Massive Attack). Então o álbum “Rockers To Rockers”, revitaliza a linguagem “dub”, aproximando-se do “house”, não esquecendo o eco e a reverberação e nem mesmo a canção. Afinal, mesmo os incontornáveis Soul II Soul, em fulgurante início de carreira quase reinventando a “soul”, consideravam-se um “sound-system”. No segundo álbum (“Mish Mash”), há uma outra visão do “dub” a de cadinho de fusão. Numa das faixas, ouve-se uma bela introdução de arpa de “Avé Maria “ de Bach, para depois a linha melódica se adornar noutra paralela mais em baixo bem azul. Igualmente, a tradição africana, é bem batente.
O “dub”, está omnipresente em quase toda a música electrónica, e o seu legado, daria para muitas páginas. As associações, são múltiplas, não só pela essência minimal que permite o aparecimento de múltiplos compostos, mas sobretudo, devido à cultura “Djing” provocada. Do seu estado mais puro, passando pelo “punk”, lembrando-se das raízes africanas (já agora podem ouvir African Head Charge), adoptando músicas de várias origens éctnicas, ou servindo de suporte para a poesia (por favor tentem encontrar o álbum “Whitch” de Leslie Winer). Para quem estiver interessado em conhecer profundamente a história da música jamaicana, por favor procurem Mestre Braga da RUC.
Música Global

“Now we bring you global music”. Assim começava o primeiro álbum dos ingleses e da belga de ascendência israelo-árabe Transglobal Underground – “Dream Of Hundred Nations”. Se a electrónica tinha contribuido para a adimensionalização estéctica e temporal da música, agora isso era assumido como um facto. Os gira-discos, serviram de redescoberta de uma memória colectiva servindo a cultura do hip-hop como catalizador para se avançar no sentido composição. Decidi parafrasear os Tranglobal, porque na realiadade, eles nunca foram considerados “world music”, nem os consigo classificar, a não ser pertencerem aos afectos do mundo. De repente, os filhos dos imigrantes de outras origens, que não só a jamaicana, trouxeram para o mundo, o seu legado musical, inserindo-o numa linguagem contemporânea que lhes era familiar. Natacha Atlas , que se ouve no belíssimo filme "Intervenção Divina", com o álbum “Diaspora”, os Loop Guru (igualmente ingleses mas de ascendência árabe), ou os Hedningarda (finladeses), seguiram o mesmo caminho. Estes discos, foram exemplo para outras etenias também darem o seu contributo à dita “club culture” sem deixarem de ter como farol as suas origens. Foi o caso de Shri (de origem indiana) a solo ou com o DJ Badmarsh, Nitin Sawhney (mais tarde até teve um quase estatuto de estrela pop) e a editora “outcast”. Curiosamente, neste caso particular, foi este o meio de alguns de nós descobrirmos ouvir as bandas sonoras de Bollywood, à semelhança do “rare groove”.
Mas, nem só o “sample” foi mote de manual. Houve quem viesse do “punk”, tivesse assimilado o “dub”, e neste tenha visto um meio para contruir um milagre metlúrgico. Além de Bill Laswell - já agora ouçam "Halicination Engine" dos Material - , Jah Wobble, aliás John Wordle dos PIL, “rebelou-se na terra dos loucos, e invadiu-nos o coração” – álbum “Rising Above Bedlam” dos Invaders Of The Heart.Aliás, foi aqui que conheci Natacha Atlas, apesar da presença de Sinead O’Connor. Neste disco, a fusão é entre o “dub” e outras tendências é total. O baixo, é o meio de transporte do mundo árabe à Península Ibérica. As canções, são cantadas em diversas línguas (inglês, francês e espenahol), e assim, a Aldeia Global tocou outra vez na música a caminho do Século XVI, porque o conceito do “sofa surfer”, já vem do Século XIV como se lê no livro de David Toop, “Ocean Of Sound”.
Houve ainda mais um disco lindo de “Música Global”, onde a poesia de Arthur Rimbaud serviu de membro aglutinador; “Sahara Blue” de Hector Zazou.Neste caso, não temos somente a electrónica, embora a presença de Tim Simenon\Bomb The Bass, logo no início, nos leva para um universo ácido em coabitação com a doce e apaixonada poesia canatda por Anneli Miriam Dreker (dos Bel Canto) e declamada pelo actor francês Gérard Depardieu, mas depois, o desenrolar da obra é lindo. Existe um delicada sensualidade em “The First Evenining” com John Cale, e um exotismo belo com cantos em hebráico. Este disco, além da música, permitiu-me estar em contacto com a poesia de Arthur Rimbaud, caso contrário, não o conheceria nunca e teria muitas dificuladaes em apreender a beleza dos versos.
A “música global”, foi apenas mais um passo na descentralização da pop, independentemente das possíveis raízes éctnicas presentes ou não na sua origem.
Neo-Psicadelismo

Não se poder considerar que algum dia o psicalismo, tivesse estado afastado da pop. Se os momentso áureos foram os finais dos anos 60 e o início dos anos 70, quanto mais não seje, do ponto-de-visita sonoro, houve sempre contactos. O “noise”, sujeitou-se sempre a uma reinterpretação através dos tempos, e se após as aventuras de Nova Iorque, a fusão nuclear foi levada ao limite do belo através dos já mencionado álbum “69” dos A.R.Kane, o neo-psicalismo reaparece no nosso léxico, com o acentuar da síncope, essencialmente, nos grupos de guitarras ao qual o consumo de “ecstasy” esteve íntimamente ligado.
De repente, já não ouvíamos só as canções, começámos a dançá-las! Os Blur, The Charlatans, os Shamen, os My Bloody Valentine que até reanimaram o sinfonisno no seio do ruído, os Curve, os Slowdive, os Happy Mondays, os Stone Roses, foram fazendo a transição entre décadas, trazendo a pop da canção “tradicional”, para as pistas de dança e até nos deram direito a um outro “summer of love”. Contudo, para mim, duas das peças principais, foram os Primal Scream e os Portugueses LX-90.
Os Primal Scream, vinham de dois álbuns menos interesantes, entre um “popito” a imitar os Byrds e o rock masi rasgado. E eis que põem cá fora “Screamadelica”! O título, é perfeitamente definidor: o grito de libertação, a “extase” em liberdade total, e a alusão ao psidadelismo. Em disco em vinil, era duplo, e a sua capa abria-se interiormente com um fotografia de Bobbie Gallespie (baterista fundador dos Jesus and Mary Chain) com uma guitarra, meio desfocada: delirante! E música? Era linda! Na abertura, tínhamos direito a uma peça de “gospel”, avançava-se para a noite, no lado B o cosmos ocupava a alma e depois fundiam-se fronteiras “because music is just music”. Finalmente, no segundo disco, mergulhava-mos no mundo do ácido. Curiosamente, neste álbum, não existia menum tema que lhe conferisse o título, esse viria no fabuloso EP “Dixie-Narco EP”.
Nunca mais me hei-de esquecer da crítica de Ricardo Saló no semanário Expresso a “Dixie-Narco...”. Do lado A, o mundo da noite -“narco”- com um “house” de poderosa leveza, do lado B, no fundo os “blues”, com “slide-guitar”, e uma admirável versão do esquecido génio Dennis Wilson, da família Beach Boys, de onde guardo no coração a seguinte frase: “I just need an angel to stone my soul”.
Agora em Portugal, os LX-90, eram constituidos com algumas cinzas dos Heróis do Mar, e o maior eleogio que lhes posso dar é o de terem feito o álbum desejado pelos Happy Mondays. O “funk” era bem marcado e as guitarras “wah-wah”, remetiam-nos para as experiências psicadélicas de grupos negros dos anos 70, como os Tempations, estes efectivamente uma recriação do mítico produtor da Motown Norman Whitfield, ou os Funkadelic. Ainda havia um DJ a integrar a música, algum tão comumm hoje, como é o caso dos Wray Gun. “1RPM”, assim se chamava o álbum, foi feito em português e inglês, a pensar no mercado internaciolnal, e chguei-o a ver á venda em França e Inglaterra, em pequenas lojas, mas era muito cedo para nós entrarmos num campo, ferozmente defendido pela imprensa inglesa. No emtanto, é um maravilhoso disco de síntese da “cena que se celebrava a ela própria”, tão exaltada no filme “24 Hour Party People”.
Para finalizar, faltam os Stone Roses. Apareceram rotulados como génios, e raríssimos foram esses momentos, em Portugal, gastaram-se resmas de papel, elogiando-os sem capacidade de discernir que aquilo não passava de um hábil aproveitamento dos Beatles e Byrds, e talvez porque bem ao nosso género saudosista, já não tínhamos os Smiths, para da melancolia encontrarmos a alegria. Quando os rapazes fizeram algo para ficar na história, niguém reparou! “Fools Gold”, foi um EP deslumbrante. Um “funk” fugral era o suporte de uma canção bonita. E no lado B do EP “Something’s Burning”, lembrava-se “Tomorrow Never Nows” de Revolver dos Beatles, devido ao início criativo de as bobines a rodarem em sentido contrário, como introdução à melodia cantada sobre um caleidoscópio de síncope.
P-Funk

Outra vez?! Sim, há coisas que nunca nos deixam. O p-funk, já o escrevemos, veio do “psycadelhic funk”, embora a designação mencionada, apareça sempre colada ao George Clinton e os seus grupos Parliemente e Funkadelic. Realmente, um dos primeiros álbuns psicadélicos da música negra, foi dos Parliement, intitulado “Osmium”. Contudo, com a criação de mais um braço armado, os Funkadelic experimentaram a “vaigem” (“trip”) enquanto o outro projecto foi acentuando o funk, poderoso, bem marcado.
O p-funk, atravessa gerações. Na década de 90, três álbuns recuperaram-no de forma esplêndiada. O mais clássico dos três é o álbum dos Material – “The Thrid Power”. Um dos discosn que mais ouvi na minha vida. Sob a batuta experiente de Bill Laswell e a sua corte, houve ainda um naipe invejável de músicos a estarem presentes; provávelmente o melhor “casting” desta década. Herbei Hancock, a dupla Sly & Robbie, Bernie Warrell e Bootsy Collins (vindos priemeiramente de James Brown, tendo-o abandonado devido ao seu estilo autocrático e optando por Geoge Clinton), e ainda Jalal dos Last Poets. Com estes meios humanos de cariz técnico e criativo, a música tinha de ser deliciosa. Há uma espantosa versão de “Cosmic Slop” dos Funkadelic, outra de ácido doce de Bob Marley e uma canção arrebatadora: “The Power Of The Soul”. Aqui, eu fico “aterrorizado” com a linha de baixo inicial, primeiramente com uma tuba e depois com guitarra, além disso ouve-se em pinceladas de guitarras “wah-wah” “With the power of the soul, Anything is possible”. Não resisto, nunca resisti e não resistirei: fico deslumbrado!
O p-funk, já o escrevemos, foi tambem uma forma lúdica de viver o cosmos, mas o Deee-Lite, resolveram, fazer a ponte entre o divertimento e os assuntos sérios. Depois de “World Clique”, onde se foi bricando com a ncessidade de recorrer ao sorriso como forma de contacto entre povos, em “Infinity Within”, a mensagem foi-se tornando séria ao longo do disco. Tudo começa de forma engraçada com uma “fax orgy”, como forma de preparação das mensagens mais importantes a virem. Os títulos das canções, eram definidores do conteúdo. “I Was Dreaming I Was Falling Into a Hole In the Ozone Layer”, revela as preocupações ambientalistas com a frase, para mim, masi importante dos anos 90:”let’s keep the hoper speening the globe”, o equivalente a “all you need is love” dos Beatles. Em “Fuddy Judge”, os receios dos desastres ecológicos acentuam-se, e Michael Franti (dos Disposobles Heoroes Of Hiphoprasy) declama “resources are being exasuted, just tell your childeren how we losted”, ou ainda, antevendo o surgimento da Internet, dizia “the planet shrinks by speed of communuication”. E havia ainda tempo a uma questão fulcral de moral, e hoe muito discutida me Portugal, o uso do preservativo como meio de prevenção (“Rubber Lover”). Mas o álbum termina sob o signo da redenção: “tahnk the days for your dreams”. Tudo o descrito, é acompanhado de um papel onírico de DJ Twa Tei, da voz doce de Miss Kier Kirby, e de músicos da família Clinton – Bootsy Colins (o baixista) e Bernie Worrell (teclista).
Por fim, também em França se fez “p-funk”. “Me, My Baby and I” de Alex Gopher, é um excelente manual de reposição dos valores dos anos 70. O funk, o jazz mais perto da pop, o “hoouse” e o “disco-p-funk”. Como foi acontecendo por esta década fora, também gente do clã Parleiment, aqui fez a sua contribuição, mas o que mais me tocou, foi ter percebido como o “p-funk” podia estar próximo da fluidez rítmica do “disco”, quando li isto no célebre livro “Modulations” editado por Peter Shapiro, crítico da revista inglesa “Wire”. Só isto revela quão bom é o conhecimento e a sua absorção por parte do músico francês. Melhor elogio não encontro.

A Redenção de Dois Mundos

Não se trata própriamente de salvar o mundo da perdição, embora discos destes nos façam mais felizes, mas antes de um acto de redenção. Já aqui o escrevemos, os míticos The Smiths, eram de Manchester cidade de “pedigree” pop, assinaram entanto pela Londrina Rough Trade, tendo sido vistos com traidores em relação à Factory. Pelo norte, choram-se lágrimas devido à perda de Ian Curtis dos Joy Division, e através das cinzas destes, nasceram os New Order. Primeiro ligados ao legado da beleza do negro, tendo contudo adiocionado mais algumas na sua paleta, ainda em tons escuros da noite. Foram progredindo, até se tornarem quase estrelas da pop - o seu “single” “Blue Monday” é o mais vendido da história.
No outro lado da barricada, os The Smiths, saturaram-se ao finalizar a década de 80, e Morrissey quase acusava Johnny Marr, cantando “I starded something, I took you to a zone where you were clearly never meant to go”. Desfeita a união, Morrisey continuou a solo com o belíssimo “Viva Hate” e Marr aderiu aos The The. Mas o destino já tinha escrito que, um dia, a redenção chegaria. E assim foi. Dois incontornáveis músicos de Manchester, Bernard Summer (ex-Joy Division e New Order) e Johnny Marr (ex-The Smiths), reuniram-se para originarem tão simplesmente os Electronic! Ainda tiveram a ajuda de Neil Tenant dos Pet Shop Boys.Qual poderia ser a música desta união? Seria um primado de guitarras? Qual seria o domínio da electrónica? A resposta era simples: o mote na continuação da canção, ia variando numa verdadeira e sã experiência de alternância democrática. Ora se dançava, ou ficava-se colado ao sofá, sonhando. E realmente este álbum foi um sonho, e a coabitação de dois mundos, de uma mesma cidade, de uma herança histórica igual, que depois divergiu. Para mim, correspondeu a ouvir dois músicos competentes e criativos, ainda lúcidos, demonstrarem o seu profissionalismo a favor da felicidade. É uma pérola escondida, sem que os eruditos da “muzca de dança” se lembrem que existiu – e ainda bem, pois não a merecem.
A Pop Que eu Deixei

Tendo feito a minha foramção pop nos anos 80, com os clássicos mencionados nesse capítulo, os anos 90, marcararm a minmha adesão à música electrónica de cariz pop. Ao contrário dos eruditos da “muzca de dança”, não aderi repentinadmente, foi um processo de aprendizaegem a assimilação, com Monus, Primal Scream e Massive Attatck, essencialmente. Por isso, ainda na década de 90, eu viva confrontado com mundo conhecido e o novo a surgir. Do primeiro, comprei Boo Radleys, My Bloody Valentine, Peter Astor, Fatima Mansions, os sempres inteligentes Sonic Youth, Lou Reed, e os Sundays.
Um dia, li no Expresso um artigo de João Lisboa acerca dos Sundays e da sua cantora de voz adocicada, Harriet Wheeler. Era ainda só um “maxi” com o título de “Can’t Be Sure”. Comprei-o na saudosa e extinta Contraverso, e ouvio-o até à exaustão. O álbum surgiria mais tarde. Seria a confirmação do disco anterior, em versão longa. As guitarras, eram fluidas e cristalinas como a água de David Gavurin, a composição de uma espantosa linearidade, e Harriet, cantava lá no alto da nuvem, palavras como “So I can’t be sure, What I want anymore, It will come to me later”, ou “England my country the home of the free, Such miserable weather” e ainda “If I could have anything in the world for free, I woudn’t share it with anyone but me, Except a certain someone”. O estado de alma, era o de uma curiosa coabitação entre a tristeza, a melancolia e a alegria. Tudo junto, para nos provocar dor e amor –quase como Morrisey e Marr nos tinham feito.
“Reading, Wrinting and Arythematic”, esta era o título do álbum, foi o último grande disco de guitarras pop, que comprei. Este tipo de fonte, secou para mim aqui. Sei que estou errado na minha abordagem, outras coisas maravilhosas foram sendo produzidas, mas não consegui captar o estímulo econtrado na música electrónica que me trouxe entretanto ao jazz, aos blues, ao funk e ao afro-funk.